Crescimento da bancada dos planos de saúde

Nas eleições de 2010 as empresas de planos de saúde destinaram R$ 12 milhões em doações oficiais para as campanhas de 157 candidatos a cargos eletivos. O apoio financeiro dos planos de saúde contribuiu para eleger 38 deputados federais, 26 deputados estaduais, cinco senadores, além de cinco governadores e da presidente da República, Dilma Rousseff.

Para a campanha da presidente eleita, a Qualicorp Corretora de Seguros doou R$ 1 milhão. Mauricio Ceschin, atual presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula e fiscaliza os planos, foi presidente do Grupo Qualicorp até fevereiro do ano passado. Para o rival de Dilma no 2º turno, Jose Serra (PSDB), a mesma empresa doou R$ 500 mil.

As conclusões integram o estudo “Representação política e interesses particulares na saúde” de autoria dos pesquisadores e membros do conselho consultivo do CEBES, Mário Scheffer, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e Lígia Bahia, do Laboratório de Economia Política da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O nº 1

Segundo o estudo, é de Marco Aurélio Ubiali (PSB-SP) o título de campeão 2010 quando o assunto foi recursos recebidos de planos de saúde. Ele foi beneficiado com R$ 285.000,00, seguido pelo ex-Ministro da Saúde José Saraiva Felipe (PMDB-MG), com R$ 270.000,00, Willian Dib (PSDB – SP), beneficiado com R$ 154.000,00 e Dilceu João Sperafico (PP – PR), com R$ 105.000,00.

Há também os que não foram eleitos nem mesmo com uma pomposa doação. Nesta situação, ficaram 30 candidatos a deputado federal. Destaque para Dalmo Claro de Oliveira (PMDB-SC), ligado ao sistema Unimed. “Sozinho, recebeu R$ 2.371.236,69, somando as doações de seis diferentes cooperativas Unimed, que praticamente financiaram toda a campanha do candidato”, diz a pesquisa.

Conflito de Interesses

Em 2009, os planos de saúde privados faturaram 64,2 bilhões de reais, com 1.061 empresas de planos de saúde médico-hospitalares atuam no mercado. Em entrevista ao jornal O Globo, Mário Scheffer defendeu uma maior transparência nesse tipo de financiamento, mesmo sendo uma atividade legal. “Está claro que, em vários momentos, o interesse de planos de saúde é totalmente oposto ao da coletividade. Políticos que a sociedade elegeu podem estar agindo em favor de interesses que não são dela — disse Scheffer.

Para os autores do estudo, não é possível definir uma única razão para que os grupos ligados a planos de saúde façam grandes doações para campanhas de candidatos. Por isso, a população deve ficar atenta. “Não é fácil comprovar a relação causal entre o financiamento das campanhas com a atuação do parlamentar ou governante em defesa dos planos de saúde. A doação pode ter relação com troca de favores ou com compromissos e envolvimentos anteriores do candidato com o setor da saúde suplementar. Daí a necessidade de monitoramento constante e acompanhamento da produção parlamentar e dos mandatos dos ocupantes de cargos majoritários, escrevem os pesquisadores.

Confira o estudo na íntegra:

Download do arquivo “Planos de Saúde e eleições”