Revolução da mulher, evolução da ciência

Correio Braziliense – 19/03/2012

Médica mastologista, é presidente da Femama 2013 Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama 2014 e do Imama 2014 Instituto da Mama do RS

Durante muitos séculos, a mulher viveu em segundo plano na sociedade — sem voz, voto ou vontade própria. Era vista como propriedade ou mercadoria. Aos poucos, foi adquirindo liberdade de ação e pensamento. Hoje, a mulher conquistou postura irrefutável diante do mundo. Ganhou novas atribuições na família e se fixou em altos cargos, em diferentes escalões.

Apesar de todo poder e ascensão, a mulher não deixou de ser mortal. Mas algumas correm tanto que se esquecem de si mesmas. Por esse motivo a Femama – Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama trabalha em uma campanha com o conceito “Mamografia — se não fizer por você, faça por mim”. A meta é conscientizar a comunidade sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama e, especialmente, incentivar as mulheres a terem atitude em relação a isso.

Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), deverão ser diagnosticados 52 mil novos casos de câncer de mama no país só em 2012. E já sabemos que quase a metade deles é descoberta quando a doença já está muito avançada. O câncer de mama tem até 95% de cura se descoberto cedo, mas essa informação parece não ser assimilada por muitas mulheres com mais de 40 anos, que deveriam estar fazendo a mamografia anualmente — o que está assegurado pela Lei Federal 11.664, desde 2009, entre outros cuidados. Sem falar nas que deveriam fazer o exame mais cedo, conforme recomendação médica. É preciso acabar com o estigma social de que o câncer de mama é sinônimo de mutilação e morte. Afinal, o mundo já deu incontáveis voltas, a mulher conquistou seu espaço e respeito e a ciência avança cada vez mais.

Vamos voltar no tempo para entender melhor esse cenário, acompanhar as mudanças e participar das que se fazem necessárias. A primeira referência sobre o câncer de mama, de 2.500 anos antes de Cristo, estava registrada em um papiro recuperado no Egito, em 1862. Nele, constava verdadeira sentença de morte para a paciente com câncer: “Uma mama com tumor protuberante e fria ao toque representa uma doença para a qual não há tratamento”. Já na Grécia, 460 anos antes de Cristo, Hipócrates, considerado o “Pai da Medicina”, também considerava o câncer de mama doença incurável e não recomendava tratamento.

Finalmente, no século 1 depois de Cristo, o médico grego Leônidas tem a coragem de realizar a primeira cirurgia relacionada ao câncer de mama. Centenas de anos depois, apenas no século 18, o primeiro diretor da Academia Francesa de Medicina, Jean Louis Petit, realiza a primeira técnica de mastectomia radical — com a retirada total da mama. Cabe lembrar que a introdução da anestesia só ocorreu em 1846 por William Morton (EUA).

Podemos avançar rapidamente no tempo e destacar que, no final do século 19, o norte-americano William Stewart Halsted, um dos fundadores do Johns Hopkins Hospital, descreve sua técnica de mastectomia radical, que virou padrão de tratamento por mais de 70 anos. Em 1895 é realizada primeira reconstrução mamária pelo cirurgião austríaco Vincent Czerny. No mesmo ano, um estudante de medicina de Boston (EUA), Emile Grubbe, é o primeiro a usar a radioterapia em paciente com câncer de mama. Em 1943, Jacob Gershon-Cohen demonstra, pela primeira vez, a possibilidade de detectar lesões impalpáveis com a mamografia.

Na sequência, os eventos passam a acontecer em espaços de tempo mais curtos. Uma tecnologia avançada de imagem, as próteses de silicone, as técnicas cirúrgicas de conservação da mama, as terapias-alvo, entre outros avanços, até os direitos dos pacientes. O próprio Inca, em suas recomendações de 2011, diz que “toda mulher com câncer de mama deve ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar especializada que inclua médicos (cirurgião, oncologista clínico e um radioterapeuta), enfermeiro, psicólogo, nutricionista, assistente social e fisioterapeuta”. Nossa presidente Dilma Rousseff disse que foi beneficiada pela prevenção e deseja que todas as mulheres tenham a mesma oportunidade e que a saúde da mulher é prioridade no seu governo.

E agora, contemporâneos da era de aquarius, o que os impede de fazer uso do seu sistema de saúde para viver mais e melhor? Se o serviço não funciona, denuncie. Faça bom uso de seus direitos e da sua cidadania. Mas, para ter voz e vez, é preciso ter valor. Brasileiras, façam um bem para vocês mesmas: cuidem-se e permitam que cuidem bem de vocês.