Saúde evolui com coleta de esgoto

Roberto Rockmann/ Valor Econômico

A falta de saneamento básico para boa parte da população tem impacto sobre a saúde pública e a economia nacional. Em 2013, segundo dados do Ministério da Saúde, foram notificadas mais de 340 mil internações por infecções gastrintestinais em todo o país. Cerca de 173 mil foram classificados pelos médicos como diarreia e gastrenterite de origem infecciosa presumível. Estudo do Instituto Trata Brasil e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) mostra que, se toda a população tivesse acesso à coleta de esgoto, esse número cairia para 266 mil.

Em termos absolutos, o número de internações deveria cair em 74,6 mil registros, sendo 56% desses casos na região Nordeste. Em 2013, o custo de uma internação por infecção gastrintestinal no Sistema Único de Saúde (SUS) foi de cerca de R$ 355,71 por paciente na média nacional. Isso acarretou despesas públicas de R$ 121 milhões no ano. O Nordeste respondeu, em 2013, por 52,1% dessas despesas, e o Norte, por 16,3%. Ambas as regiões têm a maior deficiência da rede de saneamento básico no país.

A redução do número de internações por ano que poderia ser obtida com a universalização dos serviços de água e esgoto traria uma economia anual de R$ 27,3 milhões, sendo 52,3% no Nordeste e 27,2% no Norte; o restante da redução ocorreria no Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país. “Mostrar esses impactos é o primeiro passo para envolvermos os atores na solução complexa do problema, que afeta saúde pública e a competitividade da economia”, afirma a presidente do CEBDS, Marina Grossi.

Para aumentar a mobilização em prol da causa, a entidade está discutindo maior participação em comitês de bacias. A ideia é ter uma presença maior nas bacias mais importantes do Sudeste, como interior de São Paulo e de Minas Gerais.

Há também impacto econômico. O estudo estimou a perda de 849,5 mil dias de trabalho por afastamento causado por diarreia ou vômito em 2012. Desse total, 37% dos dias se concentraram na região Sudeste do país, e 27,1%, no Nordeste. A cada afastamento perderam-se 16,7 horas de trabalho, o que equivale a uma perda de R$ 151,13 por afastamento. Assim, estima-se que, em 2012, tenham sido gastos R$ 1,112 bilhão em horas pagas, mas não-trabalhadas efetivamente. “Colocar o assunto na ordem do dia é um desafio que estamos buscando vencer com pesquisas e contato mais próximo com a imprensa”, afirma Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil. A universalização dos serviços de água e esgoto possibilitaria uma redução de 23% no número total de dias de afastamento por diarreia. Isso implicaria redução de custo de R$ 258 milhões por ano. Trabalhadores sem acesso à coleta de esgoto também ganham salários, em média, 10,1% inferiores aos daqueles que moram em locais com coleta de esgoto.