Agrotóxicos duplicam taxa de mortalidade por câncer em província argentina

Adital

A Secretaria da Saúde da Província de Córdoba, na Argentina, divulgou um estudo sobre a relação entre pulverização de agrotóxicos e a taxa de mortalidade por câncer. Na região de “pampa gringa”, zona marcada pelo agronegócio transgênico com ampla utilização de agrotóxicos, a taxa de falecimento por câncer dobra em relação à média nacional.

A Província de Córdoba possui uma taxa de mortalidade por câncer de 158 mortes a cada 100 mil habitantes. No país como um todo, a taxa gira em torno de 115,13 mortes por 100mil ¹. Entretanto, na região de “Pampa Gringa”, os índices estão muito acima da média: 216,8 na cidade de San Justo, 217,4 em Unión, 228,4 em Presidente Roque Sáenz Peña, chegando a 229,8 em Marcos Juaréz, o dobro da taxa nacional.

“Foi confirmado uma vez mais o que denunciamos há anos, assim como o que denunciam os médicos que atendem aos povos afetados nas zonas de agricultura industrial: os casos de câncer se multiplicam como nunca nas zonas com uso intenso de agrotóxicos” afirma o médico e integrante da Rede Universitária de Ambiente e Saúde (Reduas, por sua sigla em espanhol) Medardo Avila Vázquez. “As empresas de cigarros negavam a vinculação entre o ato de fumar e o câncer, levou décadas para que reconhecessem a verdade. As corporações de transgênicos e agroquímicos agem iguais: mentem, privilegiando seus negócios em detrimento da saúde da população” compara.

Para Fernando Mañas, doutor em biologia e integrante do grupo Genética e Mutagênese Ambiental, da Universidade Nacional de Río Cuarto, que investiga os efeitos colaterais dos agrotóxicos, a relação apresentada pelos dados não se trata de mera coincidência. “Existem evidências de elevados níveis de danos genéticos em habitantes de Marcos Júarez, que podem se dever a uma exposição involuntária a agroquímicos” afirmou.

Desde 2006, os estudiosos de Río Cuarto vêm cruzando dados na Província de Córdoba e confirmam que pessoas expostas a agroquímicos sofrem mutações genéticas e são mais propensas a desenvolverem câncer.

Segundo o médico e professor da Faculdade de Ciências Médicas de Rosário Damián Verneñassi, o discurso empresarial refuta os dados concretos apresentados pelos estudiosos para eximirem-se da responsabilidade com a saúde da população. “Seguem exigindo pesquisas sobre algo que já está provado e não tomam medidas urgentes de proteção à população. Estamos falando de um modelo de produção que causa um enorme problema de saúde” afirmou.

Verneñassi é um dos docentes responsáveis pelo “Acampamento Solidário”, projeto que leva estudantes do último ano de Medicina a se instalarem em uma região durante uma semana para realizarem um mapeamento sanitário do perímetro. “O estudo de Córdoba coincide com os 18 levantamentos que realizamos em localidades de agricultura industrial, onde a incidência de câncer disparou nos últimos 15 anos” argumentou.

De forma a mitigar os efeitos, Avila Vázquez, da Reduas, propõe como medidas iniciais urgentes proibir as fumigações aéreas de agrotóxicos, as aplicações terrestres a menos de um quilômetro das residências, assim como a proibição de depósitos de agroquímicos e maquinaria de borrifação em áreas urbanas.

(¹) Dados da Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC-OMS) relativo ao ano de 2012.

Fonte: Dario Aranda, de Página 12 – www.pagina12.com.ar