Ebola avança e OMS discute ética

Casos suspeitos estouram pelo mundo no dia em que Organização faz consulta sobre tratamentos sem ‘padrão ouro’

Novos casos de suspeitos de infecção por Ebola surgiram nos países foco da epidemia, enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) consultava ontem, em Genebra, especialistas em ética médica para discutir se é válida a utilização de remédios ainda em fase de testes.

O Ministério da Saúde da Nigéria confirmou ontem a infecção de uma enfermeira pelo vírus na cidade de Lagos. Ela foi mais uma que teve contato com o funcionário do governo liberiano contaminado Patrick Sawyer, que morreu em um hospital da cidade no dia 25 de julho.

Com isso, chega a dez o número de casos da doença identificados no país, onde duas pessoas já morreram. No domingo, o governo de Ruanda anunciou o isolamento de um estudante alemão vindo da Libéria, com sintomas como febre e plaudismo.

O embaixador da China em Serra Leoa, Zhao Yanbo, informou que oito funcionários da saúde chineses foram colocados em quarentena. Todos tiveram contato com pacientes contaminados e serão mantidos em isolamento por 21 dias, período máximo de incubação do vírus.

O cenário aumenta a pressão sobre a Organização Mundial de Saúde, que vem sendo acusada de dar uma resposta muito lenta ao surto. A instituição não quer aprovar o uso potencialmente equivocado de substâncias sem o ‘padrão ouro’ de testes. A iniciativa de promover um painel sobre ética médica para discutir o uso de tratamentos experimentais foi bem vista pela comunidade científica, que espera ansiosamente por novas diretrizes.

Para Arthur Caplan, diretor de ética médica do NYU Langone Medicai Center, em Nova lorque, “este é o primeiro esforço real por uma discussão pública sobre como distribuir remédios que podem salvar vidas na África”. Mas ele alerta que uma eventual aprovação imporia novas questões.”Essas drogas só poderão ser ministradas com consentimento prévio? Teremos sempre o consentimento das pessoas mais pobres da Guiné? O Governo vai dizer ‘sim’ por elas?”, indaga ele.

Caplan afirma que a quantidade limitada de remédios produzidos é outro fator complicador. Se um paciente for diagnosticado cedo, vai responder melhor do que quem está infectado há 20 dias, por exemplo, e isso pode forçar uma escolha sobre quem tratar ou não em um momento em que a droga ainda é escassa, ressalta Caplan.

Ao mesmo tempo, laboratórios correm contra o tempo para oferecer tratamentos seguros. De acordo com cientistas americanos que trabalham junto à fabricante britânica Glaxo Smith Kline, testes clínicos de uma vacina que se mostrou promissora em animais devem começar em humanos no mês que vem.

A epidemia do vírus Ebola já foi classificada como ’emergência internacional’ pela OMS. Desde fevereiro, a doença já matou 961 pessoas entre 1.779 infectados

Fonte: Brasil Econômico

Foto: EPA