Santa Casa de São Paulo recebe mais do que atende, diz auditoria

Por Rogério Pagan, Natália Cancian e Thais Bilenky

 

Maior unidade do complexo que forma a Santa Casa, o hospital central recebeu R$ 180 milhões para atendimentos de média e alta complexidade, mas prestou serviços que custaram R$ 139 milhões, 23% a menos do contratado.

Por contrato, a diferença não precisa ser devolvida, mas requer explicação dos dirigentes. O valor é próximo à dívida que a Santa Casa diz ter com seus fornecedores, estimada em R$ 45 milhões.

O levantamento, obtido pela Folha, é o primeiro resultado da auditoria do governo paulista após o fechamento do pronto-socorro do hospital, por 28 horas, em julho.

O pente-fino é condição do governo para continuar a dar verbas ao complexo. A Santa Casa não comentou os dados.

A auditoria, com membros das três esferas de governo e do Conselho Estadual de Saúde, analisa a gestão da instituição, o maior hospital filantrópico da América Latina.

“A baixa produtividade foi constatada em diversos serviços relacionados à assistência”, diz o documento.

Os R$ 180 milhões são apenas uma parte dos valores recebidos pela Santa Casa em 2013. A instituição obteve, por meio de convênio com a Secretaria Estadual de Saúde, R$ 421,8 milhões em verbas federais e estaduais.

Média

O levantamento aponta que a Santa Casa fez um terço da média de atendimentos dos 47 hospitais de ensino paulistas conveniados ou vinculados ao SUS no Estado.

O hospital central registrou 5,3 consultas por sala ao dia em 2013, ante uma média de 14,5 dos hospitais de ensino. Um deles, não identificado pela auditoria, atendeu 32,8.

O desempenho das cirurgias não foi muito melhor. A Santa Casa fez 1,4 intervenção por sala ao dia. A média dos hospitais foi de 2,3.

O desequilíbrio de resultados na Santa Casa também se reflete em outros serviços.

A taxa de reoperações (nova cirurgia causada por complicação) foi de 6,3% no hospital central, superando a média de 4,1% dos hospitais.

A Santa Casa enfrenta ainda problema comum a hospitais planejados para casos complexos e graves. Realizou 6.000 internações de baixa complexidade, que deveriam ser resolvidas em unidades básicas. A média dos hospitais foi de 1.800. A auditoria deve ser concluída até dia 29.

 

Fonte: Folha de São Paulo