Mapa das Desigualdades 2019

O Movimento Nossa Brasília, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e a Oxfam Brasil lançaram esta semana mais uma edição do Mapa das Desigualdades do DF. A publicação analisa as desigualdades que permeiam o território do Distrito Federal, a partir do cruzamento dos dados coletados na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD (Codeplan/2019) do Governo do Distrito Federal e a partir de pesquisas qualitativas realizadas pelas duas organizações.

A primeira edição do Mapa contou com indicadores da Estrutural, São Sebastião e Samambaia. Em 2018, a publicação incluiu uma versão qualitativa na Estrutural, “reverberando vozes de moradores e moradoras locais“. Em 2019, o Mapa incluiu os dados e as vozes também de habitantes do Paranoá e Itapoã.

Essa pesquisa mostrou que cerca de 55% da população está entre a renda baixa e média baixa, sendo que as de menores rendas residem na Estrutural, Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas e Varjão, regiões historicamente desassistidas pelas políticas públicas.

Saúde

Com relação a planos de saúde, o abismo é ainda maior, visto que 83% da população do Plano Piloto possui plano de saúde, enquanto que nas demais regiões não passa de 20% em Samambaia, 17% em São Sebastião, e na outra ponta, a Estrutural com apenas 5%. Se olharmos onde há menos equipamentos de saúde pública, veremos que coincide com o local onde há menos pessoas usuárias de planos de saúde, em contrapartida, no Plano, estão a maior parte dos equipamentos, mesmo com a população quase que integralmente usuária de planos de saúde privados.

Conclusões

Analisando os gráficos que tratam do Paranoá e Itapoã em comparação ao Plano Piloto a desigualdade territorial, de renda, de raça/cor ficam nítidas. Não é sem motivo que o DF é considerado o território mais desigual do país. Entre as regiões com maior número de pessoas negras, as rendas médias são muito baixas. Além disso, é explícito como o Estado vai ficando ausente na medida que afastamos dos centros onde residem as populações mais abastadas, que no caso de Brasília são Plano Piloto, Lagos, Sudoeste, Noroeste, Park Way.

De acordo com o relatório, “os equipamentos serviços públicos vão reduzindo e se precarizando, não há isonomia no tratamento, apesar de estar pessoas pagarem proporcionalmente mais impostos que os mais ricos“.

As instituições apontam na publicação que “o mais perverso é que o restante do País vê o Distrito Federal como uma ilha da fantasia, onde a população vive com as maiores rendas“. “Aqui a desigualdade é maior do que o resto do país e da região Centro-Oeste. O Índice de Gini – medida de desigualdade que varia de 0 a 1 (0 é o ideal de igualdade e 1 é o pior grau de desigualdade) – foi 0,602 em 2017, enquanto no país o índice foi 0,549 e no Centro-Oeste, 0,536“.

A desigualdade é também mais acentuada entre as mulheres, visto que a dificuldade de reinserção no mundo do trabalho é maior para elas. Dados publicados no relatório apontam que mais de 21% da população feminina economicamente ativa do DF está desempregada. No caso dos homens, são 17,9%, como indica a última Pesquisa de Emprego e Desemprego do DF, divulgada em junho de 2019 pela Secretaria do Trabalho, Companhia de Planejamento (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Para reverter esse quadro, recomenda-se políticas voltadas para educação infantil ou creches. É necessário a construção de 70,5 mil novas vagas em creches para atender para atender a demanda das crianças de 0 a 3 anos atpe 2024. Para atingir as metas nacionais de educação e pré-escola (4 e 5 anos) serão necessárias 16,5 mil vagas.

A conclusão do relatório aponta que “o quadro é muito grave. Em todas as direções que olhamos no território no nos deparamos com ausências e violações de direitos, além de reforços constantes de estigmatização daquelas(es) já vulneráveis e às margens das políticas públicas“.