A urgente necessidade de mudança no protocolo de manejo clínico da AB diante da pandemia de covid-19

artigo de Lilian Welz, sanitarista graduada em Fisioterapia, com Mestrado em Educação, pós-graduada em Saúde Coletiva e apoiadora do Cosems Paraná

Os últimos debates on line pelos especialistas e mídia em geral que relataram as especificidades da fisiopatologia da COVI-19 é preocupante quando comparado ao nosso ultimo Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde, versão 9 do Ministério da Saúde. O paciente com COVID-19 pode apresentar saturação de 78%, 80% e ainda assim estar mexendo em seu celular, não estar sentindo absolutamente nada, nem febre (não somente os idosos) e afundar rapidamente com pacientes com desmaios súbitos sem nenhum sintoma respiratório, sendo chamado de Hipóxia silenciosa dado que o coronavírus ataca as células pulmonares que produzem surfactante.

Essa substância ajuda a manter os alvéolos dos pulmões abertos entre as respirações e é fundamental para a normal função pulmonar e quando a inflamação da COVID-19 começa, ela provoca o colapso destes sacos de ar e os níveis de oxigênio caem. No entanto, os pulmões inicialmente permanecem “em conformidade”, ainda não rígidos nem cheios de líquidos, levando os pacientes a ainda expelir dióxido de carbono e sem acúmulo de dióxido de carbono, os pacientes não sentem falta de ar.

Como movimento compensatório, os pacientes começam a respirar mais rápido e mais profundamente e não percebem. Essa hipóxia silenciosa e a resposta fisiológica do paciente a ela causam ainda mais inflamação e mais colapso dos alvéolos e o paciente que não entrar na oxigenioterapia piora o seu pulmão no esforço respiratório e isso o levará a ser entubado, aumentando a necessidade do uso dos ventiladores. Essa HIPÓXIA SILENCIOSA explica o fato dos pacientes de COVID morrerem de repente e aos pacientes que sobrevivem ainda se precisará estudar o que ficou de lesão pulmonar deste processo compensatório.

Considerando que a Síndrome Gripal (SG) no referido protocolo considera indivíduos que apresentem febre de início súbito, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta ou dificuldade respiratória, na ausência de outro diagnóstico específico e em crianças com menos de 2 anos de idade, considera-se também como caso de Síndrome Gripal: febre de início súbito (mesmo que referida) e sintomas respiratórios (tosse, coriza e obstrução nasal), na ausência de outro diagnóstico específico, como poderemos avaliar melhor a baixa saturação e sem febre na COVID? Como ficam estas orientações aos idosos que não apresentam febre geralmente e são os mais vulneráveis nessa pandemia? A Saturação de O2 não deveria entrar nos critérios de SG neste momento e o protocolo de manejo clínico da AB ser alterado? Porque neste momento ainda orientamos procurar as UBS apenas quando sentir falta de ar? Qual a real resolutividade da verificação de temperatura nas barreiras sanitárias?

O Protocolo ressalta, porém, que “em pacientes com sinais de agravamento, incluindo SpO2 ? 95%, considerar o início imediato de oxigenioterapia, monitorização contínua e encaminhamento hospitalar”. Como estamos com o uso da oxigenoterapia e no uso dos oxímetros de pulso na atenção básica? É importante um levantamento sobre este equipamento no país? Porque nas equipes o foco ainda é a febre se a fisiopatologia da doença mostra outra coisa?

Para melhor manejo Clínico da COVID é importante que todos saibam e compreendam sobre a possibilidade desta HIPÓXIA SILENCIOSA E FATAL e a necessidade de inserção na rotina a verificação da Saturação de oxigênio sendo mais um critério para o SG. O Protocolo de Manejo Clínico do MS em sua versão 9 coloca apenas para a atenção especializada a verificação da Saturação de SpO2 ? 95% em ar ambiente, mas no Formulário do Técnico de Enfermagem na página 34 coloca a verificação dos sinais vitais (Temperatura, Frequência cardíaca e respiratória, SATURAÇAO DE OXIMETRIA e Pressão arterial) na UBS.

Precisamos reforçar o protocolo dos técnicos de enfermagem nas UBS já descrito pelo MS, o uso de oxímetros pela Atenção Básica nas Equipes e também nos domicílios e inserir no SG não somente o enfoque da febre, mas da saturação de O2.

Referencia

BRASIL, Ministério da Saúde. Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde, versão 9. Brasília: MS/SAPS, maio de 2020. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/20200504_ProtocoloManejo_ver09.pdf.

Em artigo publicado no jornal cientifico NEJM Catalyst Innovations in Care delivery, Médicos do Hospital Papa Giovanni XXII, em Bergamo, no epicentro da COVID-19 na Itália, falam sobre a importância do isolamento social e sobre uma resposta coordenada do sistema de saúde. Disponível em: https://catalyst.nejm.org/doi/full/10.1056/CAT.20.0080.

O Coronavírus está matando silenciosamente. Veja como enfrentá-lo antes que seja tarde demais. O que aprendi durante dez dias de tratamento contra a pneumonia por COVID-19 no Hospital Bellevue. Disponível em: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,o-coronavirus-esta-matando-silenciosamente-veja-como-enfrenta-lo-antes-que-seja-tarde-demais,70003279106.