Mística de adeus à Simone Leite

Meu samba é a voz do povo
Se alguém gostou
Eu posso cantar de novo
(…)
Eu sou a flor que o vento jogou no chão
Mas ficou um galho
Pra outra flor brotar
A minha flor o vento pode levar
Mas o meu perfume fica boiando no ar

É nessa grande roda de samba e ciranda que o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) presta sua homenagem e lamenta profundamente a morte de Simone Maria Leite Batista, militante do SUS, da Educação Popular em Saúde e das Práticas Integrativas e Complementares. Simone Leite foi um grande exemplo de mulher na luta pela justiça social e na defesa incansável do SUS e do saber ancestral e popular como catalisador das mudanças do fazer e cuidar em saúde. Sua trajetória no Movimento Sanitário é marcada pelo seu compromisso e capacidade de gerar bons encontros em suas articulações como uma verdadeira leitora de mundo Freiriana, e por uma sociedade mais justa e solidária, de cuidado mútuo e no “fazejamento” e agir coletivo.

Ajudou a fundar o Movimento Popular de Saúde (MOPS) na cidade de Aracajú, na qual chegou a ser secretária-adjunta de Saúde, em 1988, como no estado, somando na organização da Rede Nacional de Educação Popular em Saúde (Redepop), na década de 1990. Junto com diversas organizações, Simone contribuiu para a institucionalização do campo da Educação Popular dentro do Ministério da Saúde. O envolvimento num trabalho horizontal, em rede e marcado pela ação freireana, solidária e militante deu as bases para a fundação da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (Aneps) em 2003, cuja presidência era exercida por Simone. A coroação dessa construção chegou quase 10 anos depois, com a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), ainda que nunca plenamente efetivada.

Simone sabia a importância política do cuidado, e que, para ser militante, o cuidado mútuo é autocuidado também. Quantas vezes Simone trouxe aconchego e práticas de saúde espiritual-física-mental aos compas adoecidos pela militância que é luta, é tesão, mas também absorve o adoecimento diário do cotidiano neoliberal.

Simone é força bem enraizada, é foco no que precisa ser feito, é cuidado e amorosidade como estratégia de disputa pelo comum e é semeadura. Uma ponte / para saúde do povo brasileiro em sua integralidade, com a consciência de cada vez mais da necessidade de esperançar e propiciar o cuidar, pois acreditava que “Cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do mundo” (canção de Ray Lima)

Essa foi a última Participação de Simone na Programação da Rádio literária Carrapato no Programa Minuto mais Saúde – no dia 10/04/21

Devido a um mal súbito com pico de hipertensão arterial e toda a determinação social da saúde do Brasil silenciado e proibido de ser para todos (as) (es), neste sábado, 12 de junho, Simone veio a óbito aos 64 anos. Deixa o marido e três filhos, além da imensa saudade e admiração em tantos e tantas militantes, companheiros e companheiras espalhados pelo Brasil.

Em nome de todos os cebianos (as) (es) e da diretoria do CEBES, expressamos nossos mais sinceros sentimentos e solidariedade a cada semente de amigos e seus familiares que Simone regava com tanto carinho. Hoje Simone já é semente em nós, e que será regada e multiplicada como foi de sua afetuosa forma de ser.

Te ofereço paz
Te ofereço amor
Te ofereço amizade

Ouço tuas necessidades
Vejo tua beleza
Sinto os teus sentimentos

Minha sabedoria flui
De uma fonte superior
E reconheço esta fonte em ti
Trabalhemos juntos, trabalhemos juntos…

(Te Ofereço – Paz Grupo Arte Nascente)

Simone Leite presente e semente hoje e sempre!

Lute como Simone Leite!