Cebes presta tributo a Sebastião Loureiro

A Saúde Coletiva brasileira e tantos quantos lutam por um Brasil mais justo, democrático e soberano e pelo aprimoramento e fortalecimento de um sistema de saúde universal, equitativo e participativo, estão de luto com a partida de Sebastião Loureiro. Tião, como era conhecido, foi um dos pioneiros da introdução das ferramentas analíticas das ciências sociais e humanas para pensar e analisar criticamente as condições de saúde e a organização dos sistemas de prestação de seus cuidados.

Médico, epidemiologista de origem, rapidamente rompeu os limites da versão clássica da disciplina para deixar-se penetrar pelos múltiplos condicionantes sociais, econômicos, políticos e, até mesmo epistemológicos, para a análise do processo saúde-doença nas coletividades humanas. Liderou, com Hésio Cordeiro que também nos deixou faz pouco, uma verdadeira revolução no pensamento crítico sobre a Saúde, desencadeado na América Latina na memorável reunião de Cuenca no Equador. Lá encontrou Juan Cesar Garcia, Asa Cristina Laurell, Miguel Marques, Isabel Rodriguez e Jaime Breilh. De volta à Bahia, estruturou junto com Hésio, no Rio, e seu conterrâneo Guilherme Rodrigues da Silva, em São Paulo, os primeiros programas de pós-graduação com aquele olhar inovador. Tião também teve significativo papel na consolidação do campo disciplinar da economia da saúde.

Foi um dos fundadores do Cebes na Bahia e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, da qual foi Presidente de 1985 a 1987. Nesse período deu à Abrasco destacado papel no processo que conduziria a afirmação do Direito à Saúde na 8ª Conferência Nacional de Saúde, onde também representou o Cebes, e na Constituição de 1988. Na Oitava reafirmou o conceito da determinação social da saúde, da conformação de um sistema universal de saúde justo e equitativo e submetido ao permanente controle social.

Seu compromisso latino-americano de origem o levou a ser Coordenador Geral da Associação Latino-Americana de Medicina Social – ALAMES, entidade viva até hoje na luta pela democracia, justiça e saúde para os nossos povos. Seu internacionalismo ampliou-se para outros continentes, tendo também presidido a Associação Internacional de Política de Saúde (IAHP).

Personalidade suave, agregadora e gentil, manteve-se ativo na luta até seus últimos dias de vida. Deixa-nos memória e inspiração para uma luta que é permanente e exige bons combatentes.

Sebastião Loureiro presente!