Para Lúcia Souto, ‘caso Prevent Senior’ mostra que saúde não pode ser tratada como mercadoria

A presidenta do CEBES Lúcia Souto, médica sanitarista e pesquisadora do departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da ENSP/Fiocruz, participou na manhã deste sábado de uma roda de conversa na revista semanal Narrativas Críticas. Além de Lúcia, Andrea Trus e João Ricardo Dornelles também conversaram com Orlando Guilhon, ativista do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e dos Coletivos Fernando Santa Cruz e PT Militante de Nova Friburgo. Os temas dessa edição foram: ‘Bolsonaro na ONU: vergonha internacional‘, ‘CPI da Covid; Experimentos médicos com seres humanos‘ além de ‘02/10 – FORA BOLSONARO‘.

Na análise de Lúcia Souto, apesar da fala do presidente Jair Bolsonaro nas abertura da cerimônia das Nações Unidas, nessa terça (21) abordar conteúdos já ultrapassados, como a defesa da cloroquina no enfrentamento à Covid-19, o discurso dele foi, sim, “premeditado e organizado”. Para ela, Bolsonaro mirou o público da extrema-direita brasileira e mundial. Lúcia lembrou ainda dos efeitos maléficos de discursos negacionistas durante a pandemia, que hoje mata cerca de 2000 pessoas nos Estados Unidos por dia. Por causa do discurso negacionista de políticos e ativistas locais, além da defesa de medicamentos como ivermectina contra a Covid-19, o país norte-americano está sofrendo revés no enfrentamento à doença. Para a sanitarista, campanhas bem sucedidas de vacinação organizadas no passado ajudaram a contrapor e anular o discurso negacionista do atual presidente da República.

Lúcia recebeu com bons olhos a iniciativa do presidente do México, Andrés Manuel Lopés Obrador, de propor maior integração dos países da América Latina, aos moldes de uma União Europeia para impulsionar a economia da região. A proposta foi feita na oi feita na abertura da 6ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe (Celac). Uma união nesses moldes, acredita a pesquisadora, daria condições para o Brasil reconstruir sua economia. “Se não tivemos alinhamento geopolítico (com a América Latina), a nossa situação ficará fragilizada“.

A pesquisadora também abordou a CPI da Covid-19, que essa semana destrinchou as denúncias contra a Prevent Senior, que adotou como carro-chefe o ineficaz “kit covid” contra a pandemia. Um dossiê entregue à CPI por ex-médicos da empresa apontam práticas médicas criminosas pela companhia, como ocultação da causa da morte de pacientes além da pressão pela prescrição do “kit covid” e ligação com o suposta “gabinete paralelo” que aconselharia a Presidência da República na elaboração de políticas públicas contra a pandemia. Para ela, o “caso Prevent Senior” mostra que a Saúde não pode ser tratada como mercadoria e fortalece a bandeira do CEBES pela luta de um SUS 100% público. Lúcia apontou que não foi só a Prevent Senior que adotou práticas criminosas assim, mas Hapvida e Unimed. Segundo a presidenta do CEBES, a CPI está ajudando a destrinchar os malefícios do lobby de grupos empresariais da saúde no parlamento brasileiro.

Lúcia Souto finalizou a participação no programa lembrando de Paulo Freire e falando do potencial decolonial do Brasil. “Não podemos continuar no padrão de acumulação do capitalismo. A volta da fome é uma coisa absurda”. Ela lembrou das manifestações do dia 02 de outubro pelo #ForaBolsonaro. Por fim, ela elogiou a CPI da Covid-19, que conseguiu evidenciar a má gestão do governo federal contra a pandemia.

Veja o programa na íntegra no link ou a seguir: