IBGE: Brasil tem avanços e desafios ambientais
O Globo – 19/06/2012
O Brasil vem dando passos na direção do desenvolvimento sustentável, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. É o que mostra o relatório “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável” (IDS), publicação divulgada ontem pelo IBGE. Dos 62 indicadores que compõem o estudo, houve avanços em quase metade dos itens que abraçam quatro áreas — ambiental, social, econômica é institucional. Alguns, contudo, com ressalvas.
— De fato, os desafios continuam e estão concentrados em duas frentes: nas florestas e nos grandes aglomerados urbanos. Nestes dois locais precisamos de vigilância renovada. Nas florestas, para combater o desmatamento, e nas metrópoles, para elevar a qualidade de vida — disse Wasmália Bivar, presidente do IBGE.
Entre as melhoras, o IBGE cita a redução, em seis anos, de cerca de 77% no desflorestamento anual da Amazônia Legal, o aumento do número de áreas protegidas, a queda da mortalidade infantil à metade em uma década e o acesso crescente às redes de água e esgoto e à coleta de lixo. Entre as fragilidades, a publicação apontou a permanência das desigualdades socioeconômicas e de gênero. Um dos maiores desafios é o do saneamento, que traz consequências como persistência do elevado número de internações por doenças ligadas à falta de saneamento básico, mais comuns no Norte e no Nordeste.
— O desenvolvimento sustentável é um processo lento e contínuo. O país melhorou em muitos aspectos, mas há muito a melhorar ainda — afirmou Denise Kronemberger, coordenadora da publicação, acrescentando que o desenvolvimento sustentável não pode se limitar a apenas uma área, precisa abraçar do meio ambiente à distribuição mais igualitária da renda.
Poluição em grandes centros acima do recomendado
As emissões brasileiras de C02 eram de 8,9 toneladas per capita em 2005, o que fica um pouco acima da média mundial (8,5). Os dados sugerem que o crescimento das emissões nos anos mais recentes — de 2000 a 2005 — segue em ritmo mais lento do que o observado anteriormente — de 1990 a 1994.
O Brasil vem reduzindo de forma acelerada o consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio. E, com isso, supera as metas estabelecidas para o país no Protocolo de Montreal — que propõe a redução do consumo de substâncias destruidoras de ozônio criadas pelo homem. Destaque para a redução no uso dos CFCs (clorofluorcarbonos), que saem de 11.198 toneladas/pdo (potencial de destruição do ozônio) em 1992 para 1.208t/pdo em 2010.
Mas a maioria dos grandes centros urbanos brasileiros tem nível de poluição acima do recomendado. E isso apesar de muitas apresentarem tendência de declínio ou de estagnação nas concentrações de poluentes nos últimos anos. O Rio, por exemplo, apresenta alto nível do chamado PM 10 (partículas inaláveis) — um dos poluentes que mais afeta a saúde da população, causando ou agravando doenças respiratórias. A substância aparece em alta em | cidades como São Paulo, Curitiba e Vitória.
— A concentração média do PM10 está acima do padrão em quase todos os anos da série histórica, de 1998 a 2010, no Rio de Janeiro. Mas não é um retrato só do Rio — citou Denise.
A falta de saneamento básico é um dos maiores problemas socioambientais do país, apontou o IBGE. E isso afeta a qualidade das águas dos rios no país — especialmente dos que abastecem regiões metropolitanas. E, como nos rios, as praias mais próximas de portos e centros urbanos apresentam a pior qualidade de água. Essa situação, mais uma vez, reflete o baixo percentual de tratamento de esgotos coletados e lançados em corpos de água. Apesar da coleta de esgotos sanitários apresentar expansão, o tratamento ainda é incipiente.
Em dez anos, número de queimadas reduziu em 40%
O número de queimadas no país caiu mais de 40% em dez anos. Em 2000, o país tinha 104 mil focos de calor — bem mais do que em 2011, com 61.687. Uma mudança importante, já que as queimadas, tradicional meio de preparo do solo para a agropecuária, respondem por grande parte das emissões brasileiras de gases do efeito estufa. Esse indicador menor é fortemente influenciado pela queda no desmatamento na Amazônia Legal. Estimativas preliminares apontam para uma área desflorestada de menos de um quarto da área observada em 2004.
— A Amazônia e o Pantanal são os biomas brasileiros mais bem preservados. E isso mesmo com uma área desflorestada perto dos 20% da florestal original da Amazônia e 15% da Amazônia Legal — disse Denise, lembrando que 85% do Pantanal foram preservados.
627 espécies ameaçadas, em especial na Mata Atlântica
Mais de 600 espécies (627) da fauna brasileira estavam extintas ou ameaçadas de extinção no país em 2005 — a maior parte na Mata Atlântica. Os grupos com maior número de espécies ameaçadas são as aves, os peixes de água doce e os insetos.
— Um conjunto de fatores ameaça à biodiversidade, como desmatamento, queimadas e poluição — disse Denise.
Os compromissos assumidos na Rio 92, no documento Agenda 21, vêm perdendo a força ao longo dos anos no país. Dados do IBGE mostram que 50,6% da população viviam em cidades com iniciativas de Agenda 21 Local. Em 2009, a proporção caiu para 41,2%. Alguns projetos não foram adiante, o que pode ter ocorrido por causa da dependência de recursos financeiros. E ainda coloca dúvidas se, 20 anos depois, os compromissos da Rio+20 perderão força dentro do país. (Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista)