Em 2014, duas transexuais ocupam cargos públicos

Por Isadora Otoni/ Revista Fórum

Entre as conquistas das pessoas transgêneros está a mudança do tema da Parada do Orgulho LGBT.

De todas as letras que a sigla LGBT representa, as pessoas transgêneros são as menos contempladas pelo movimento. No Dia da Visibilidade Trans, em 29 de janeiro, vieram à tona diversos desabafos sobre a exclusão que essa parcela da sociedade sofre. A ativista transexual Daniela Andrade, do Fórum da Juventude LGBT Paulista, chegou a declarar à Fórum que a sociedade não considera as pessoas trans como gente, e que o próprio movimento LGBT trata a questão “de forma precária e negligente”.

Ainda que esteja longe de alcançar o destaque da luta gay, ou até da luta feminista, a questão trans conseguiu algumas conquistas em 2014. Duas mulheres transexuais ocuparam cargos públicos no Brasil, e o tema da parada LGBT passou a abordar a Lei de Identidade de Gênero após pressão popular.

Em Goiânia, capital de Goiás, a delegada Laura de Castro Teixeira conseguiu afastamento do cargo para passar por uma cirurgia de mudança de sexo no início deste ano. Ela voltou a trabalhar em fevereiro e foi remanejada para a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), mas ainda não conseguiu alterar seu nome oficialmente. Seu colega de trabalho, o delegado geral adjunto da Polícia Civil de Goiás Daniel Adorni, disse ao G1 que a corporação a admira. “O problema para nós é policial corrupto, o policial omisso, o policial descompromissado com o público, com a instituição. Isso, para nós, é só motivo de orgulho e respeito pelo ato de coragem”, declarou ele.

Recentemente, outra conquista gerou repercussão. É o caso de Julia Dutra, professora de artes cênicas na rede estadual de escolas do Rio de Janeiro. Ela se tornou diretora do Colégio Estadual Max Fleiuss, por indicação da ex-diretora e concordância da comunidade escolar. Em entrevista concedida ao O Globo, Julia declara que mesmo com a equipe formada por 90% de evangélicos, ela conta com apoio da maioria dos estudantes e professores. Ainda assim, alguns alunos e funcionários ainda usam o pronome “ele” e “Julio”, nome com o qual a diretora foi registrada.

Os casos de Laura e Julia ganharam destaque justamente por serem exceções. Segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil), 90% das transexuais e travestis brasileiras estão se prostituindo. Algumas medidas visam atenuar as dificuldades da população trans, como o TransEmpregos, que reúne empregadores dispostos a contratar travestis e transexuais profissionais, e a SP Escola de Teatro, que tem cota para funcionárias trans. Porém, a iniciativa que mais repercutiu recentemente foi a proposta da Lei João Nery, de Érika Kokay (PT) e Jean Wyllys (PSOL), que visa facilitar a mudança de nome no documento.

Parada do Orgulho LGBT

Uma petição online mudou o tema da Parada do Orgulho LGBT de 2014. O ato teria a frase-tema “País vencedor é país sem homofobia. Chega de mortes! Criminalização já!”, mas após pedidos de que a população trans fosse contemplada, a frase mudou para: “País vencedor é país sem HomoLesboTransFobia! Pela aprovação da Lei de Identidade de Gênero Já”.

No entanto, o presidente da APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo), Fernando Quaresma, declarou ao SpressoSP que as pessoas transgêneros sempre tiveram espaço na Parada. “A visibilidade e buscar esse espaço a gente tem que lutar por eles. Aberto eles sempre foram”, comentou. Ele também desafiou: “Nós lançamos a ideia de fazer durante a Parada um abaixo-assinado para a aprovação da lei, agora vamos ver se vão abraçar essa causa também”.