A austeridade estrangulou o Reino Unido. Apenas o Partido Trabalhista poderá relegá-la à História.

Joseph Stiglitz

 

O Neoliberalismo foi uma criatura da era de Reagan e Thatcher. A austeridade é seu estertor final. Antes que ele cause mais algum dano, o Reino Unido precisa de um plano para o crescimento.

 

A escolha diante dos votantes nesta eleição é clara – entre a continuação de uma austeridade malsucedida ou um Partido Trabalhista com a agenda econômica certa para o Reino Unido. Para entender porque o Partido Trabalhista está certo, precisamos olhar de volta para os anos 1980.

 

Sob os governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos e de Margaret Thatcher no Reino Unido, houve a reescrita das regras básicas do capitalismo. Esses dois governos mudaram as regras que orientavam as negociações trabalhistas, enfraquecendo os sindicatos; e enfraqueceram o combate aos cartéis, permitindo que mais monopólios fossem criados. Em nossa economia hoje, podemos ver setores da indústria cujo mercado é controlado por duas ou três empresas. Isso lhes possibilita aumentar os preços – e à medida que os preços aumentam, o poder de compra das pessoas cai.

 

Mudanças na forma como nossas corporações são administradas permitiram que altos executivos tirassem uma fração cada vez maior do faturamento corporativo, deixando cada vez menos para ser reinvestido na companhia e ser pago aos trabalhadores. A política monetária foi conduzida com o foco na inflação, ao invés do emprego.

 

Mais de três décadas depois, está claro que as regras foram reescritas de um jeito que desacelerou nossa economia. Essas mudanças encorajam a financeirização, com as empresas buscando apenas o lucro de aplicações; e eles promovem o “curto-prazismo”, com as companhias relutando em investir no longo prazo. Ambas as tendências contribuem para essa desaceleração. E conforme a economia tem crescido mais devagar, ela vem sendo dividida mais desigualmente.

 

Esse conjunto de ideias que se tornaram dominantes foi chamado neoliberalismo. Por impulsionarem a desigualdade e a dependência do capital financeiro, as ideias do neoliberalismo alimentaram diretamente a crise de 2008. Agora foi mostrado que elas estavam erradas, que estiveram erradas por mais de um terço de século. É hora de os pensarmos em alternativas.

 

Colocando em termos simples, é preciso que haja um equilíbrio apropriado entre governo e mercado. Quando a economia está fraca, como tem estado em anos recentes, é necessário que os governos invistam em recursos humanos, tecnologia e infraestrutura. Isso faz a economia crescer não somente hoje, mas também no futuro.

 

Ao invés disso, desde a crise, muitos governos se voltaram para a austeridade. Em toda a Europa, e no Reino Unido, eles tentaram enlouquecidamente cortar gastos, com a alegação de que precisavam quitar dívidas acumuladas em consequência da crise.

 

A ideia de que a dívida do governo é similar a dívidas privadas tem um tipo de apelo intuitivo. O ex-chanceler conservador George Osborne falava sobre “estourar o limite do cartão de crédito”, o que obrigaria os governos a equilibrar as contar e os impediria de tomar empréstimos. Mas uma economia é diferente de uma família. Numa economia, quando o governo gasta mais e investe na economia, esse dinheiro circula, e recircula de novo e de novo. De modo que ele não cria empregos apenas uma vez: o investimento cria empregos múltiplas vezes.

 

O resultado é que a economia cresce multiplicada pelo gasto inicial, e as finanças públicas se tornam mais fortes; à medida que a economia cresce, a receita fiscal aumenta, e as demandas ao governo por seguro-desemprego ou programas sociais para ajudar os mais pobres diminuem. Com o aumento da receita dos impostos resultante do crescimento e a queda dessas despesas, a posição fiscal do governo se fortalece.

 

A austeridade tem o impacto oposto. A evidência nesse ponto é muito clara. A austeridade não apenas prejudicou as economias europeias, incluindo a do Reino Unido, mas na verdade ameaça o crescimento futuro. Por exemplo, quando você tem jovens deixando de aprender, ou em empregos inapropriados a suas habilidades, as economias não estão aumentando seu capital humano da forma como poderiam. Sem capital humano, o crescimento econômico futuro será menor do que poderia. É notável que ainda há governos, incluindo aqui no Reino Unido, que ainda acreditam na austeridade,

 

É preciso romper com o passado. Com o neoliberalismo desacreditado e a austeridade fracassada, temos de reescrever as regras da economia novamente. Mas desta vez do jeito certo. Necessitamos de regras que objetivem o crescimento econômico de longo-prazo, e o único tipo de prosperidade sustentável é a prosperidade compartilhada.

 

Ainda que você tenha de tomar empréstimos, se o valor dos seus investimentos – em recursos humanos, tecnologia, infraestrutura – aumenta, então a economia estará numa posição mais forte no futuro. Enfocar apenas o lado deficitário da folha de balanço deixa isso passar e prejudica a economia.

 

Há uma longa lista de investimentos que os governos poderiam e deveriam estar fazendo. Há o fortalecimento da infraestrutura, como transportes e comunicações; há o investimento em educação; há o investimento nas famílias, particularmente a adoção de medidas que libertem as mulheres da escolha entre criar a família e trabalhar. Se isso for feito, a força de trabalho aumentará. E isso não é melhor apenas para a sociedade – é melhor para a economia.

 

Nesta eleição, é o Partido Trabalhista que está defendendo o tipo de plano econômico certo para o Reino Unido. Eu fiquei impressionado em como o partido propõe financiar seus planos: não é a partir de “dinheiro mágico”, mas em propostas cuidadosamente pensadas e baseadas em taxar os indivíduos mais ricos e assegurar que as corporações paguem o que devem. A evidência mostra que essas ações não irão desacelerar o crescimento, mas ajudarão a fortalecer a economia do Reino Unido.

 

Traduzido por Iago da Silva Caires a partir de https://www.theguardian.com/commentisfree/2017/jun/07/austerity-britain-labour-neoliberalism-reagan-thatcher