Dia Mundial da Saúde Mental: A urgência de priorizar o bem-estar no trabalho em um mundo acelerado

Trabalho cura, mas também adoece

A contemporaneidade trouxe sintomas importantes na vida da população. Hoje, 10 de outubro, é o Dia Mundial da Saúde Mental. Para este ano, o tema escolhido é: “É Hora de Priorizar a Saúde Mental no Local de Trabalho”. O tema merece reflexão de todos os trabalhadores e trabalhadoras que estão expostos a rotinas pouco saudáveis em diversos níveis da vida, inclusive no mental, que pode ser mais difícil ser identificado.

De acordo com as Nações Unidas, uma em cada oito pessoas vive com algum transtorno de ordem mental. Sintomas como exaustão emocional e física, dificuldade de concentração, distúrbios do sono, irritabilidade, dores de cabeça, tensão muscular, palpitações e outros podem se enquadrar na Síndrome de Burnout, ou esgotamento profissional, é um fenômeno crescente no cenário contemporâneo, diretamente relacionado às dinâmicas aceleradas e competitivas impostas pelo capitalismo neoliberal.

No capitalismo contemporâneo, o ritmo acelerado e a cultura da urgência se tornaram normas. As tecnologias digitais, que deveriam promover maior flexibilidade e qualidade de vida, muitas vezes ampliam a carga de trabalho, estendendo as horas laborais e dissolvendo as barreiras entre vida pessoal e profissional. A pressão por resultados imediatos é constante, e a busca por “estar à frente” no mercado se traduz em jornadas intermináveis e expectativas cada vez mais altas, tanto para trabalhadores quanto para empresas.

A lógica do capitalismo avançado, ao transformar tudo em mercadoria, inclui também o tempo e a energia dos trabalhadores. O corpo e a mente são capitalizados e desgastados em um ciclo de produtividade extenuante, que ignora as necessidades humanas básicas de descanso, lazer e desconexão. Esse excesso de trabalho e a falta de pausas adequadas resultam em uma sobrecarga física e psicológica, culminando no esgotamento que caracteriza o Burnout.

O impacto dessa dinâmica vai além do indivíduo. A sociedade como um todo adoece com essa aceleração constante. Ansiedade, depressão e Burnout tornaram-se problemas de saúde pública, revelando as falhas de um sistema que prioriza o lucro em detrimento do bem-estar coletivo. Profissões essenciais, como saúde, educação e tecnologia, são especialmente afetadas, visto que a demanda por resultados rápidos, combinada com a falta de suporte adequado, torna os trabalhadores desses setores mais vulneráveis ao esgotamento.

Além disso, o Burnout reflete as desigualdades inerentes ao capitalismo. Enquanto algumas elites têm acesso a recursos para gerenciar o estresse, como terapias e retiros de bem-estar, a maioria da população trabalhadora lida com a precarização do trabalho, contratos temporários e uma instabilidade financeira que agrava o impacto do esgotamento. Isso cria um ciclo de exploração em que o trabalhador exaurido tem pouca ou nenhuma capacidade de escapar das condições que o esgotam.

Portanto, o Burnout é mais do que uma condição médica; é um sintoma de uma sociedade estruturada para extrair o máximo de seus indivíduos, sem proporcionar os recursos necessários para o cuidado e recuperação. Combate-la exige não apenas soluções individuais, como pausas ou técnicas de relaxamento, mas uma reavaliação crítica das formas de trabalho e do modelo econômico que impulsiona esse ritmo desumanizante. Somente ao questionar e transformar essas estruturas será possível construir um futuro em que o bem-estar seja tão valorizado quanto a produtividade.

O Dia Mundial da Saúde Mental foi criado em 10 de outubro de 1992 pela World Federation of Mental Health. Desde sua instituição, a data é celebrada anualmente com o objetivo de conscientizar a comunidade global sobre questões essenciais relacionadas à saúde mental. Ao longo dos anos, esse dia se consolidou como uma importante plataforma para que governos, organizações e indivíduos desenvolvam iniciativas focadas em diferentes aspectos dos cuidados e da promoção da saúde mental.

Depressão e ansiedade– Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos devido à depressão e à ansiedade. Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT/ONU) afirma que o impacto da Saúde Mental sobre o trabalho é tão relevante nos países de baixa renda quanto nos países desenvolvidos.

O documento destaca que o trabalho pode ser potencial fator de promoção da Saúde Mental, por proporcionar estrutura temporal, contato social, senso de esforço e propósitos coletivos, identidade social e atividade regular, necessária para a organização da rotina. O documento alerta, porém, para o efeito do trabalho no adoecimento psíquico, com condições como “sobrecarga de trabalho, falta de instruções claras, prazos inexequíveis, não-participação nas tomadas de decisão, insegurança no emprego, condições de trabalho em isolamento, vigilância e arranjos inadequados de cuidado com filhos pequenos.