SUS oferece teste para infecção generalizada
O Estado de S. Paulo – 27/07/2012
Antes restrito à rede privada de saúde, exame rápido tem ajudado os médicos a medir o nível da doença
A infecção generalizada – sepse, no jargão médico – causa 400 mil mortes por ano no Brasil. Mais da metade dos pacientes que desenvolvem esse tipo de infecção não resiste. Entre os desafios dos médicos está o de determinar o nível de infecção e evitar doses excessivas de antibiótico.
Um teste rápido – o biomarcador de procalcitonina – tem ajudado os profissionais a direcionar o tratamento. Antes restrito à rede particular, o exame passou a ser oferecido a pacientes do SUS em hospitais como A.C. Camargo, em São Paulo, Servidores do Estado e Hospital Central da Aeronáutica, ambos no Rio.
A procalcitonina (PCT) é uma substância encontrada em baixas concentrações em pessoas saudáveis. Durante grave infecção bacteriana, o organismo a libera em grande quantidade. O tratamento é feito com antibiótico.
“Não existem dados exatos que indiquem por quantos dias deve se dar o medicamento para o paciente em UTI. No paciente grave, se der antibiótico em quantidade insuficiente, ele não vai se curar totalmente. Se der muito, há o risco de se criar uma bactéria resistente a antibiótico, o que no ambiente de UTI pode ser catastrófico”, explica o médico intensivista Rodrigo Deliberato, do Hospital Albert Einstein, que defende, no fim do ano, tese de doutorado sobre o uso da PCT em pacientes com sepse.
Ao dosar a PCT, o médico consegue avaliar a gravidade da infecção e se o paciente está reagindo ao tratamento. Também pode indicar a necessidade de troca do remédio. No trabalho que apresentará, Deliberato estudou 80 pacientes. “É seguro usar como guia para suspender o antibiótico sem piorar o desfecho clínico, com possível benefício na questão de redução do custo.”
Outro teste tem facilitado o diagnóstico rápido do micro-organismo que provocou a infecção, o Septifast. Esse exame detecta o DNA de bactérias e fungos e dá o resultado em até seis horas – a hemocultura (exame no sangue para isolar e identificar os micro-organismos) pode levar de 24 horas a 72 horas.
Hoje, somente o Einstein, em São Paulo, o Laboratório Richet, no Rio, e o Hospital Regional (MS) oferecem o exame.
“A cada hora que o paciente não é tratado ou é tratado de forma errada, aumenta em 8% o índice de mortalidade. Esse teste detecta o material genético de 25 bactérias e fungos, que respondem por 90% dos casos de sepse”, afirma o patologista Hélio Torres Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e diretor médico do Richet.
Sintomas. Ao contrário de outras doenças, a sepse não tem sintomas específicos. “A principal ferramenta para o tratamento é o médico e a equipe multiprofissional pensarem nos sinais de alerta: febre, alteração no estado de consciência e frequência cardíaca e respiratória altas”, afirma Reinaldo Salomão, presidente do Instituto Latino Americano para Estudo da Sepse (Ilas) e professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
Um estudo do Ilas aponta que os pacientes atendidos em pronto-socorro são mais diagnosticados com sepse que aqueles internados em UTI. “O pronto-socorro é porta de entrada do hospital. Muitas vezes o paciente desenvolveu a sepse em casa. É importante o ficar atento a alterações do paciente. Pessoas idosas podem ficar mais confusas ou mais sonolentas. A família acha que o avô está mais sossegado e demora para perceber que é um sintoma grave de disfunção orgânica”, alerta Salomão.