Representantes do Movimento Popular de Saúde de Campinas entregaram carta de reivindicações ao Ministro Alexandre Padilha

Representantes do Movimento Popular de Saúde de Campinas entregaram ao Ministro Alexandre Padilha uma carta, no dia 06, durante evento naquela cidade. O documento revela a situação no município, que tem sido alvo de acusações sobre esquema de corrupção oriunda da própria prefeitura. Diz um trecho: “Nessas duas últimas semanas essa rede, que já foi reconhecida como das melhores no nosso país, produz manchetes recorrentes na imprensa local com denúncias de deficiências no atendimento e sofrimento da população”. Confira a carta na íntegra.

Carta ao Sr. Ministro da Saúde Dr. Alexandre PadilhaCampinas, 6 de agosto, de 2011

O Movimento Popular de Saúde de Campinas (MOPS) recebeu, na véspera, a informação de que o Sr. estaria em nossa cidade justamente no Hospital Ouro Verde, para evento comemorativo do repasse de recursos do Ministério da Saúde para ampliação das ações assistenciais naquele hospital. Nós do MOPS não fomos convidados, mas também queremos ser ouvidos. Infelizmente, Sr. Ministro, sua visita ocorre em péssimo momento para o SUS-Campinas e nada temos a comemorar. Muito pelo contrário! A notícia do evento festivo, com sua presença, soa como ofensa diante das condições do SUS na nossa cidade. É nítido para nós o uso que os gestores do SUS querem fazer dessa visita. A Administração Municipal convulsiona diante de uma crise gravíssima causada por denúncias e evidências fortíssimas de corrupção deslavada que envolve recursos públicos em vários órgãos.

A política municipal priorizou a privatização da gestão de serviços em detrimento da continuidade da qualificação da gestão pública, que nosso município, mais até do que a maioria dos municípios brasileiros, tinha plenas condições de fazer. O Hospital Ouro Verde é, para amplos setores da sociedade, um símbolo infeliz dessa política entreguista que abre mão do patrimônio histórico que o SUS acumulou em nossa cidade. Ele foi entregue para gestão de uma Organização Social que hoje sofre processos em todo estado de São Paulo, que questionam sua idoneidade e capacidade de gerir recursos em benefício da população. Mas isso o Sr. deve muito bem saber, já que está aumentando o repasse de recursos para ela. O que talvez o Sr. não saiba é que a continuidade da privatização da gestão do hospital contraria deliberações do Conselho Municipal de Saúde e das duas últimas Conferências Municipais. A administração municipal trata com descaso e tenta manipular as instâncias do Controle Social. Foi dessa forma que conseguiu aprovar há mais de dois anos, na ânsia de inaugurar o serviço às vésperas da eleição municipal, a privatização da gestão do hospital, dizendo aos conselheiros que estaria passando a gestão para a Universidade Federal de São Paulo. Essa mentira ficou mais tarde explícita e fez com que o Conselho revertesse sua posição quando tomou consciência do engano ao qual foi submetido. A rede básica de saúde na cidade, que sempre foi orgulho dos campineiros, encontra-se deslegitimada e degradada, com falta de profissionais, obras paralisadas, crise de abastecimento e de manutenção.

Nessas duas últimas semanas essa rede, que já foi reconhecida como das melhores no nosso país, produz manchetes recorrentes na imprensa local com denúncias de deficiências no atendimento e sofrimento da população. A falta de concursos públicos tem sido uma opção da administração que degradou o quadro de pessoal da secretária sem sequer ter a justificativa dos limites impostos pela lei de responsabilidade fiscal. Hoje mais de um terço dos trabalhadores são terceirizados e a rotatividade dos médicos atinge níveis nunca vistos, muito em função das precárias condições de trabalho.Os trabalhadores de vários serviços, entre eles o CEREST, os CAPS e a Vigilância em Saúde, passam pelos piores momentos de sua história em decorrência da falta de recursos e até de perspectivas que acenem com possíveis melhoras.

Com a notícia da vinda do ministro o MOPS não podia deixar de manifestar-se, pois nesse exato momento preparamos uma grande Plenária Popular “Em Defesa do SUS-Campinas”. Essa cidade que já foi pioneira na construção da atenção básica, na constituição do Conselho Municipal de Saúde e na Lei que cria Conselhos Locais e que teve na construção do SUS a intervenção constante do MOPS e de militantes históricos das universidades e dos serviços não tem nesse momento nada a comemorar e muito pelo contrário pede socorro ao Ministério da Saúde para retomar os rumos do SUS e de seus princípios constitucionais pelo qual sempre lutamos.

Campinas precisa sim de recursos federais, como todo o SUS brasileiro, mas precisamos também de posicionamentos firmes e inequívocos contra a corrupção, em favor do Controle Social do SUS e em favor do fortalecimento da gestão pública e de qualidade.

MOVIMENTO POPULAR DE SAÚDE DE CAMPINAS