Política nacional e cuidado no âmbito da dependência química
Editorial do volume 37, número especial da Revista Saúde em Debate.
Chegamos ao 37º ano da revista Saúde em Debate reafirmando a satisfação de nossa participação na Scientific Electronic Library Online (SciELO) e o inquestionável valor que a revista vem merecendo nos últimos anos, o que
pode ser constatado pelo visível crescimento do número de artigos submetidos à nossa página eletrônica (www.saudeemdebate.org.br). Este número, especialmente dedicado ao debate sobre a política nacional e as formas de tratamento e cuidado no âmbito da dependência química, é resultado de uma proposta conjunta do CEBES e da Fundação Oswaldo Cruz.
O aumento, ao menos da visibilidade, da utilização do crack no país tem produzido uma série de respostas, a maioria delas em condições de pouca reflexão e de pouca base nas experiências acumuladas no país, tanto nos aspectos da Atenção Psicossocial quanto da Redução de Danos. A maioria dos municípios passou a clamar por internação compulsória dos “drogados”, fazendo crer que a questão da dependência química é de abstinência forçada, de ordem pública, de polícia e de repressão. Na verdade, tais medidas escondem propostas conservadoras e retrógradas no que diz respeito aos avanços alcançados e construídos pela sociedade brasileira desde a aprovação da Constituição Cidadã, de 1988. Por trás dos clamores de sequestro e violação dos direitos humanos existe um projeto de rejeição das liberdades democráticas e dos direitos de cidadania, além de muitos outros interesses que apareceram com o objetivo de tirar partido da política antidrogas (igrejas, imobiliárias, construtoras, clínicas privadas e tantos outros).
Este número vem contribuir para o debate, oferecendo uma série de artigos de pesquisa, revisão e ensaios que demonstram o amadurecimento desse campo, talvez pouco considerado pelos formuladores de políticas, que insistem em lançar mão de estratégias de intervenção invasivas e ineficazes, que atendem a interesses de segmentos específicos e não aos dos usuários e de suas famílias.
A chamada para este número foi tão bem sucedida – o que reflete não apenas a importância que a Saúde em Debate merece, conforme anunciamos acima, mas também, e certamente, o peso que o tema recebe, atualmente, no país – que centenas de artigos foram submetidos à avaliação. Impossibilitados de publicar todos de uma só vez, nos comprometemos a publicá-los nos números seguintes, na medida em que forem sendo aprovados por nossos revisores do tema.
Esperamos que os leitores de Saúde em Debate façam bom proveito dos artigos aqui publicados, baseando-se neles para instrumentalizarem-se, ainda mais, na construção de novas práticas e argumentos com vistas a um cenário de solidariedade e respeito pelos direitos humanos no âmbito do SUS. Esses são os princípios da Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos, da qual o CEBES faz parte.
Boa leitura!
Paulo Amarante
Editor Científico.