A conjuntura continental e os desafios da saúde na América Latina
Plenária ampliada da ALAMES realizou análise da conjuntura política e desafios para a saúde pública na América Latina
Na noite da última quarta-feira (29), foi oficialmente inaugurada a plenária ampliada da Associação Latino-Americana de Medicina Social (ALAMES), evento preparatório para o 18º Congresso da entidade, que será realizado em agosto no Rio de Janeiro, organizado pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). O encontro reuniu cerca de 300 participantes conectados via Zoom e foi transmitido ao vivo pelo canal do Cebes no YouTube, ampliando o alcance do debate sobre os desafios da saúde pública na América Latina.
O congresso acontece em um momento simbólico: os 40 anos de fundação da ALAMES, criada em 1984 no contexto da redemocratização do Cone Sul e da América Latina, período marcado pela superação de governos ditatoriais e pela ascensão de políticas neoliberais que moldaram profundamente os sistemas de saúde da região.
Desde sua criação, a ALAMES se constituiu como um espaço de resistência e formulação crítica das políticas de saúde, tendo como base a luta dos povos latino-americanos por seus direitos. A entidade não apenas acompanhou, mas também influenciou políticas sanitárias em diversos países, sendo pioneira em denunciar os impactos das desigualdades sociais na saúde pública — um debate que a Organização Mundial da Saúde (OMS) só adotaria oficialmente 24 anos depois, com a abordagem dos determinantes sociais da saúde.
A plenária contou com a participação de todos os capítulos que compõem a ALAMES: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Haiti, México, Peru, Porto Rico e República Dominicana, reforçando o compromisso coletivo na defesa da saúde como um direito fundamental.
A crise atual e os retrocessos na saúde pública
O cenário político e econômico da América Latina atual traz novos desafios. A ofensiva do capital financeiro sobre os sistemas de saúde, a privatização desenfreada dos serviços públicos e o enfraquecimento de políticas de proteção social colocam em risco as conquistas das últimas décadas. Para além disso, a ascensão de governos autoritários e neofascistas em diferentes países ameaça direitos fundamentais e amplia as desigualdades.
No debate de abertura do plenário, destacou-se a preocupação com o uso de novas tecnologias como instrumentos de dominação global, a manipulação midiática que distorce realidades e influencia processos democráticos, além da crescente militarização da América do Sul com a presença de tropas estrangeiras. As estratégias coloniais do passado reaparecem sob novas formas, revogando direitos sociais e ambientais, fragilizando sistemas públicos e ampliando o controle do capital sobre áreas essenciais da vida humana.
Diante desse panorama, os organizadores do congresso reforçaram a necessidade de aprofundar o debate e definir estratégias concretas para a defesa da saúde pública universal, da soberania dos povos e do fortalecimento dos sistemas de proteção social. “A saúde é uma bandeira de luta essencial, e cabe a nós garantir que nossas batalhas não sejam interrompidas pelo medo ou pela imposição do mercado”, enfatizou um dos participantes.
O 18º Congresso da ALAMES no Brasil
Pela democracia, direitos sociais e saúde
O 18º Congresso da ALAMES, com o tema “Pela democracia, direitos sociais e saúde”, será um espaço crucial para a formulação de novas estratégias de enfrentamento aos desafios da atual conjuntura. A convocação dos capítulos nacionais e redes participantes da ALAMES é para que, nos próximos meses, intensifiquem as articulações locais e fortaleçam o engajamento, garantindo que este encontro se torne um marco na luta latino-americana pela saúde como direito e não como mercadoria.
Reportagem: Cebes/Fernanda Cunha