A dor não tem cor ou bandeira
Pedro de Jesus Silva*
Quando queremos o melhor para alguém, desejamos saúde. É o maior tesouro da vida e sem ela sobram a dor, a agonia e o desespero. A dor é própria dos seres vivos, da mesma forma que a compaixão é uma qualidade inerente ao ser humano, racional e emocional – ou deveria sê-la. Nem sempre é assim, e certas atitudes ficam sem sentido quando esta falta de empatia pela dor do outro acomete profissionais de saúde sem aptidão para lidar com aquele que sofre, negando a natureza do seu próprio ofício.
Infelizmente, há pouco tempo, a população assistiu ao vergonhoso e cruel exercício de preconceito, racismo, xenofobia e depreciação, quando médicos brasileiros injuriaram seus colegas cubanos, que vieram ao País para ocupar as vagas que nossos compatriotas recusaram. Médicos cubanos trabalham no mundo todo em causas humanitárias e são profissionais bastante conceituados. Se é correta ou não a forma como serão pagos pelo seu trabalho, não nos cabe discutir: não somos juristas, estes sim providos formação e saber para debater a matéria. O que importa – com urgência – é atenuar a dor dos brasileiros que penam sem assistência médica neste País de dimensões continentais, por falta de recursos de todos os tipos, inclusive humanos.
Quando abraçamos carreiras profissionais ligadas às áreas da saúde, a perícia, a técnica e a destreza são importantíssimas. Porém, sentimentos de misericórdia, solidariedade, altruísmo e espírito de equipe são atributos que constroem a vocação ética profissional, aquela que separa os bons dos maus e os brilhantes dos medíocres. Não se pode conceber que um trabalhador da saúde seja preconceituoso ou racista.
Nós da enfermagem, que travamos uma luta intensa contra o sofrimento da população, 24 horas por dia, ininterruptamente, sabemos que não há nada que nivele tanto o ser humano quanto a dor, seja ele rico, pobre, negro, louro, velho ou jovem. Que sejam bem-vindos os médicos cubanos e quem mais estiver disposto a trabalhar duro pela saúde dos brasileiros. A Enfermagem estará sempre de mãos estendidas e braços abertos para atuar lado a lado com os médicos nas equipes multiprofissionais, sejam eles brasileiros, cubanos, portugueses, espanhóis, ou de qualquer outra nacionalidade.
Pois a dor é democrática, não tem pátria, bandeira, cor, gênero ou idade.
* – Presidente do Conselho regional de Enfermagem do Rio de Janeiro