A luta para deixar a droga no passado

O Globo – 18/03/2012

Carioca de 18 anos, casada e grávida de 2 meses, diz que venceu o vício

BRUNA exibe tatuagem com nome do marido, com quem vai ter um filho: “vi pessoas fumando e não tive vontade. Venci, e tenho esperança de que eles vão conseguir um dia”

Em dezembro, o governo federal anunciou um programa de enfrentamento ao crack com recursos de R$4 bilhões. Semana passada, a prefeitura de Recife e o governo pernambucano formalizaram sua adesão, e receberão R$85 milhões até 2014. Segundo o Ministério da Justiça, o estado e a cidade do Rio só não foram incluídos ainda por problemas de agenda das autoridades, já que a cerimônia de adesão envolve três ministros (Saúde, Justiça e Desenvolvimento Social), além do governador e do prefeito.

O objetivo do programa é permitir que viciados possam deixar para trás a droga. A carioca Bruna, de 18 anos, orgulha-se ao dizer que parou com o crack. Filha de uma família desestruturada, ela experimentou a droga aos 16. Em maio de 2011, foi encaminhada pela prefeitura para o centro de tratamento Bezerra de Menezes, em Guaratiba. Uma das primeiras adolescentes a ser mantida compulsoriamente num abrigo, Bruna ficou cinco meses no local, até fazer 18 anos. Hoje, casada com um ajudante de cozinha e grávida, está livre do crack há dez meses. Ela sonha ser educadora.

– Antes, eu não aceitava que estava viciada – conta Bruna. – O abrigamento me ajudou muito, mas a realidade é aqui fora. Sempre que bate a fraqueza, ligo para o pessoal da Bezerra de Menezes. Noutro dia, vi parentes fumando crack e não tive vontade. Eu venci, e tenho esperança de que eles vão conseguir um dia.

Contudo, para o coordenador do Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, Marcelo Santos Cruz, o acolhimento obrigatório é uma medida de eficácia questionável.

– Essa prática é uma resposta imediatista, que tem o resultado de diminuir a visibilidade do problema. Mas os efeitos desta política a médio e longo prazo são desconhecidos. – critica Cruz, que desenvolve uma pesquisa com 80 usuários de crack no Rio. – Afastar os sujeitos das drogas e de outras situações de risco é uma coisa. Eles se tratarem é outra. É importante que a pessoa esteja motivada a parar de usar drogas.