Adeus a Haddad
“Em vez de um minuto de silêncio, peço uma salva de palmas”. O convite foi atendido pelos presentes no seminário “Gestão Pública na Saúde: alternativas para a consolidação do direito universal”, em Brasília, na manhã da sexta-feira (11), quando Luiz Neves, da diretoria do CEBES, anunciou a morte do presidente de honra do PSB, Jamil Haddad, que ocorrera durante a madrugada daquele dia. Filiado ao mesmo partido de Haddad, Neves estava emocionado. Ao lado dele, Elias Jorge, do Ministério da Saúde e Gilson Carvalho, do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (IDISA), duas personalidades importantes da história da reforma sanitária, falaram sobre o ex-ministro da saúde. Foi uma pausa para uma homenagem merecida.
“Eu conheci o Jamil quando ele assumiu a pasta do Ministério da Saúde. Ele me convidou para fazer trabalhar em sua gestão, assim como outras pessoas do movimento social. Nós fizemos um documento com várias condições para dizer sim. Para a nossa surpresa, ao entregarmos o documento, ele olhou e disse: ‘É isso? Mas é isso que nós vamos fazer´”. E ele fez o que nenhum outro ministro fez. Ele tinha a ousadia de exigir que cumprisse a lei”, disse Gilson Carvalho, que completou: “Essa coragem fez com que ele votasse contra o governo e entregasse o cargo de ministro”. Lembrou ainda outro ponto importante: “José Serra, governador de São Paulo, se vangloria por ter sido ele quem introduziu os medicamentos genéricos nas prateleiras das farmácias, mas foi o Haddad o autor do decreto”.
Amigo de trabalho pela saúde pública e de sigla partidária, Elias Jorge contou que o PSB “cunhou ao longo do tempo a expressão ‘Jamiliar´, o que significa fazer política com integridade. Ele deixou raízes”, disse, lembrando que a morte de Haddad será uma perda grande para SUS.
Médico formado pela Universidade do Brasil (hoje UFRJ) em 1949, com especialização em ortopedia, Jamil Haddad ingressou na vida política na década de 1960, quando foi eleito deputado estadual pelo então Estado da Guanabara, na coligação formada pelo PSB e PTB.
Em 1983, filiado ao PDT, assumiu a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, permanecendo no cargo de março a dezembro daquele ano. Ministro da Saúde no governo Itamar Franco, foi autor do decreto dos medicamentos genéricos. Em 2003, já no governo do presidente Lula, foi diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca).