Aids – avanços e desafios
O Estado de S. Paulo – 30/04/2012
CARLOS ALBERTO DI FRANCO – DOUTOR EM COMUNICAÇÃO; É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO;
O Brasil é, reconhecidamente, um país que tem desenvolvido importantes políticas públicas de saúde na luta contra o flagelo da aids. Destaca-se, por exemplo, o tratamento universal gratuito. Em princípio, nenhum paciente de aids está abandonado. Todos têm acesso aos medicamentos. Não é o que ocorre lá fora. Os norte-americanos não contam com políticas públicas de universalização do tratamento da aids. É frequente que o Brasil, generosamente, receba pacientes de outros países – caso de muitos bolivianos acolhidos e tratados em nosso país. Outro avanço importante, sobretudo no Estado de São Paulo, é a política de testagem universal. A campanha Fique Sabendo, promovida pela Secretaria Estadual da Saúde, tem por objetivo estimular a população a fazer o teste anti-HIV. A meta é realizar a campanha em 100% dos 145 municípios prioritários para DST/aids e divulgá-la em 100% dos municípios paulistas com a antecedência mínima de um mês. O saldo da campanha é muito positivo. Diagnóstico precoce é garantia de eficácia no tratamento. Além disso, é um importante freio na disseminação da aids. Outro avanço merece registro: a profilaxia pós-exposição. A Coordenação Estadual DST/Aids-SP, ligada à Secretaria da Saúde do Estado, lançou um site específico relacionado à profilaxia pós-exposição ao vírus HIV. Trata-se de uma forma de prevenção da infecção por esse vírus utilizando os medicamentos que fazem parte do coquetel para tratamento da aids. “Este método é indicado para pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus recentemente, por meio de relação sexual desprotegida, ou seja, sem camisinha”, explica Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual DST/Aids-SP. Esses medicamentos precisam ser tomados por 28 dias, sem interrupção – para impedir a infecção pelo vírus HIV -, sob orientação médica. Essa forma de prevenção já é usada com sucesso por vítimas de violência sexual e por profissionais da área da saúde que se acidentam com agulhas e outros objetos cortantes contaminados. O site fornece orientação geral para casos de exposição ao vírus. É importante procurar o quanto antes um serviço credenciado. O uso do medicamento deve ser iniciado o mais cedo possível. O ideal é que a pessoa comece a tomar a medicação em até duas horas após a exposição ao vírus e, no máximo, em 72 horas. Os avanços são promissores. Mas os desafios são imensos e não permitem que se baixe a guarda numa guerra dura, difícil e carregada de drama humano. Hoje a incidência de HIV cresce especialmente entre jovens homossexuais. Impõe-se buscar soluções inovadoras e eficazes, que exigem grandes esforços, em especial na educação das novas gerações. Sempre intuí a necessidade de um aprofundamento sério no tema da formação da sexualidade. Em meu esforço de apuração topei com uma experiência surpreendente: o programa denominado Protege tu Corazón. A história começa em 1993, na Colômbia. Como a grande maioria dos pais, Juan Francisco e Maria Luisa Velez começaram a se preocupar com a educação sexual que seria implantada nas escolas de seus filhos. A orientação proposta contrariava tudo o que haviam imaginado transmitir aos filhos sobre o amor, a sexualidade, a família e a vida. Confundia-se sexualidade com sexo, amor com sexo e se alicerçava seu conteúdo exclusivamente no que denominavam “sexo seguro”. O que queriam dizer com sexo seguro? Algo parecido com o que acontece por aqui. Fomenta-se, por um lado, a cultura da hipersexualização e da promiscuidade e se tenta, por outro, preservar os adolescentes de uma gravidez indesejada e da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) com o uso dos preservativos. Ninguém, no entanto, se preocupa com as dramáticas consequências físicas, emocionais e afetivas causadas pelo oba-oba sexual. Esse casal não se limitou a lamentar, mas, com apoio de especialistas e, sobretudo, de outros pais de família, elaborou um Programa de Educação da Sexualidade para ser aplicado nas escolas. O programa espalhou-se por 18 países da América Latina e do Norte, da Europa e nas Filipinas. Tem um slogan simples e direto: “Caráter forte, sexualidade inteligente”. Ou seja, entende que, em primeiro lugar, a sexualidade é um componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com outros, de se expressar e de viver o amor humano. A proposta do programa é ajudar os adolescentes a fortalecer seu caráter, de tal forma que a inteligência e a vontade adquiram prioridade sobre os sentimentos. Os adolescentes são normalmente impulsivos, inseguros, não se conhecem bem, e são essas carências que os fazem tomar decisões equivocadas e correr riscos desnecessários, sobretudo ao iniciarem um relacionamento sexual muito precoce. O programa Protege tu Corazón já está no Brasil (www.protegetucorazon.com.br). A metodologia é interativa, moderna, com material audiovisual, dramatizações, discussões em grupo, exercícios escritos, etc. Com essa metodologia se pretende que o adolescente seja levado a refletir sobre suas escolhas, seus sonhos. Apresenta uma característica importante, que é fomentar o diálogo entre pais e filhos. E, acima de tudo, o programa tem uma norma: “Propor, e não impor”. Faz pensar e aposta na liberdade. Os adolescentes, frequentemente bombardeados pela banalização do sexo, surpreendem-se ao perceberem uma outra forma, positiva e responsável, de entender a sexualidade. Mas os principais protagonistas dessa mudança são os próprios pais. O programa na escola é uma ajuda poderosa para os pais, mas não pretende substituí-los nem subestimá-los. Apoia-os e oferece ferramentas concretas para facilitar a comunicação entre pais e filhos. É uma parceria interessante e os resultados me impressionaram. Vale a pena.