Além da cura
Por Auro Del Giglio*
A medicina moderna conta com avanços diários em tecnologia, novos medicamentos e aperfeiçoamento de práticas clínicas. A rápida evolução, que cria os melhores diagnósticos e terapias, tem a cura como principal objetivo. No entanto, a atenção aos pacientes não deve parar por aí – precisa ir além.
Após a alta médica, os médicos não podem, simplesmente, dar por encerrado o seu trabalho. Os traumas psicológicos gerados por tratamentos e algumas debilitações físicas permanecem durante longos períodos em grande parte dos pacientes.
Os efeitos colaterais em oncologia, por exemplo, fazem com que muita gente procure terapias alternativas para retomar suas rotinas com alguma qualidade de vida, durante e após os tratamentos. Sem a orientação de especialistas, ex-pacientes começam a fazer exercícios físicos e massagens, além de consumirem produtos naturais vendidos como terapias diversas, entre outras coisas. Isso pode ser perigoso.
No entanto, há um novo conceito na medicina conhecido como saúde complementar, que utiliza meios diferenciados para ajudar tanto antes como depois da cura de pacientes com diversas enfermidades, que exigem tratamentos rigorosos.
Meditação, ioga, reiki, acupuntura, musicoterapia e diversas outras práticas são cada vez mais usadas como complemento à medicina de ponta, recomendadas pelos melhores especialistas do mundo, desde que realizadas com as devidas supervisões médicas. O objetivo é garantir o bem-estar de pacientes, amenizando os efeitos muitas vezes agressivos de tratamentos.
Não basta apenas que médicos “receitem” terapias complementares – a nova prática exige alta qualificação de profissionais que realizam as terapias não-convencionais e um planejamento médico apurado. Cada caso necessita de atenção especial, ou seja, uma análise detalhada e um plano de ação personalizado. Afinal, um tipo de exercício é bom para um paciente que passou por um certo procedimento, mas, para outro, pode não ser adequado.
Essa preocupação acompanha o crescente aumento de pessoas curadas das mais variadas doenças, graças aos avanços da ciência médica, que tentam retornar às suas rotinas, mas ainda carregam problemas emocionais ou físicos.
Hoje, um em cada três pacientes em tratamento para o câncer é curado, aumentando o número de pessoas que tentam retomar suas atividades e voltar a usufruir uma vida normal. O tratamento oncológico pode causar complicações agudas, persistentes e de surgimento tardio, como a obesidade, que é um problema comum em mulheres que trataram um câncer de mama. Uma dieta realizada sem a supervisão de um nutricionista pode ser desastrosa.
Para doenças crônicas e algumas de efeito agudo, durante e após a cura, é recomendável que sempre se busque orientação médica antes de decidir por formas complementares de se lidar com o estresse, a depressão, as dores e os efeitos colaterais diversos. Preferencialmente, esses serviços devem ser validados por instituições de confiança do paciente e do médico.
(*) Auro Del Giglio é coordenador do núcleo de oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein. Artigo publicado no jornal O Globo, na edição do dia 20/10/08.