O apocalipse do capitalismo militarista e antiambiental e não há mais tempo de adiar esta conversa
A crise climática exige atenção imediata mas, no cenário geopolítico internacional, está relegada a segundo plano por conta das guerras na Ucrânia, em Gaza e diversos países do globo. Este texto da jornalista do Cebes, Fernanda Regina da Cunha, aborda as consequências do avanço do capitalismo militarista e antiambiental. Vamos discutir os impactos das mudanças climáticas e sociais. Junte-se ao Cebes sobre essa realidade crítica.
Enquanto a crise climática escancara suas consequências no Brasil e no mundo, o complexo militar industrial planetário segue expandindo sua atuação e tendo seus desejos satisfeitos. Embora dados científicos apontem que o calor em 2023 já supera todos os anos anteriores, o negacionismo ainda tem voz ativa na sociedade e segue cumprindo seu papel alienador.
O complexo multimilionário tem amplificado seus tentáculos, enquanto a saúde dos povos se torna cada dia mais vulnerável, seja pela violência de projetos colonizadores, pela desigualdade produzida pelo neoliberalismo ou pelas consequências climáticas que já mostram um prognóstico apocalíptico, sem qualquer exagero na palavra. A população pobre já vive na pele os sintomas de um adoecimento anunciado.
A grande questão que se apresenta no momento é: ainda há o que dizer ou alertar sobre a crise climática? Em 1992 a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro – ECO 92 apontou a necessidade de mudanças e foi uma espécie de sinal de esperança para a sobrevivência do mundo. Depois dela, outras conferências e acordos foram estabelecidos, como o Protocolo de Kyoto (2005) e o Acordo de Paris (2015).
Entretanto, o capitalismo não tem interesse em cooperar para que os acordos de fato sejam cumpridos, no máximo ele contribui para que determinados setores de consumo sigam existindo e perpetuando o ciclo lucrativo. Ao capitalismo não interessa o desaparecimento do urso polar no Ártico ou do boto-rosa da Amazônia, desde que o gado permaneça alimentando a gigante indústria pecuária, que destrói florestas e é umas das grandes geradoras de gases do efeito estufa.
Este é um assunto ainda pouco explorado, inclusive pela esquerda, pois na teoria ele implica em mudanças “radicais” em comportamentos individuais. Entretanto, a questão aqui não é fazer com que a população abandone o consumo de carne, mas sim que haja um controle de processos da pecuária. Em 2006, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) produziu um relatório onde aponta que 60% da cevada e milho e 97% do farelo de soja produzidos no mundo são destinados para alimentação do gado de corte. Este não é um dado que possa ser ignorado.
Repensar o fato que de toda a terra agricultável do planeta, apenas 25% é destinado à produção de alimentos de origem vegetal pode até ser desconfortável, mas é necessário. No capitalismo a fome não acontece por escassez de alimento, mas sim por má distribuição, pela desigualdade resultante do próprio funcionamento do sistema.
Enquanto este texto é escrito, a Amazônia vive uma seca histórica com seu ar poluído pelas intensas queimadas, o estado de Santa Catarina está com cidades inteiras assoladas por enchentes e o Rio de Janeiro enfrenta temperaturas altíssimas. Quando falamos em emergência climática, é porque de fato, é uma emergência e estamos em risco.