Aprovado na Câmara, Código Florestal também deve provocar polêmica no Senado
Texto foi aprovado com 410 votos a favor
Brasília – A liderança do governo no Senado terá a difícil tarefa de não deixar pontos passíveis de vetos da presidenta Dilma Rousseff no texto final sobre a reforma do Código Florestal. De acordo com o líder Romero Jucá (PMDB-RR), o projeto aprovado na Câmara dos Deputados “é bom”, mas deverá sofrer alterações no Senado, especialmente com relação à Emenda 164 para atender aos anseios do governo. “Precisamos construir uma alternativa que não vá a veto e que una toda a base. Provavelmente haverá emenda sobre isso [emenda 164] e outras coisas.”
A emenda que causou polêmica na votação de ontem (24) à noite e que poderá ser derrubada pela base governista do Senado transfere da União para os estados a competência de legislar sobre a permissão para atividades agropecuárias em áreas de preservação ambiental.
Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) da Casa, senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), esse trecho do texto aprovado pela Câmara dos Deputados deverá mesmo sofrer alterações. Ele defende que a União defina as diretrizes gerais sobre esse tipo de questão e os estados não possam alterar a definição para reduzir os benefícios ao meio ambiente. “Defendo que a União faça uma regra geral e os estados possam ampliar essa regra se entenderem que a área é tão importante que mereça ser ampliada.”
Rollemberg deverá definir o relator da matéria na CMA – que é a comissão de mérito mais importante por onde o projeto deverá passar – e pode até avocar a função para si. Ele, contudo, ainda não definiu se fará isso.
Além da emenda, outra questão que causou polêmica entre os deputados e que deverá continuar em pauta no Senado é a que trata da anistia dos produtores rurais que desmataram suas reservas obrigatórias. Para a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), o assunto foi mal interpretado até pelo governo, que se manifestou contra a ideia depois de o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ter sido aprovado. “Não há anistia. Ele apenas manteve o que já está valendo agora pelo decreto presidencial. Ele suspende a validade das multas até que a pessoa regularize a área e recomponha a sua reserva. Ele troca a multa pela recomposição da reserva, o que é muito melhor.”
Para o oposicionista Álvaro Dias (PSDB-SC), o texto aprovado pela Câmara prevê, sim, a anistia dos desmatadores e deve ser modificado pelo Senado. Na opinião dele, esses dois pontos devem provocar polêmica e rachas na base governista. Com isso, o senador acredita que as discussões sobre o novo código devem dividir, mais uma vez, os parlamentares em ruralistas e ambientalistas, e não mais em base aliada e oposição. “Como na Câmara, a base não deverá votar unida aqui”, afirmou líder do PSDB.
A divisão da base é o que Romero Jucá tentará evitar. Segundo ele, o PMDB deverá votar unido e a divisão entre campo e meio ambiente vista na Câmara não deverá se reproduzir no Senado. “Aqui há menos emocionalidade nessa discussão. Não há blocos de ambientalistas ou de ruralistas, há senadores que representam seus estados.”
Para tentar afinar o discurso com a base, Jucá pediu à presidenta Dilma que amplie o prazo do decreto que suspende as multas para os produtores que desmataram por 120 dias. Com isso, o líder acredita que ganhará tempo para discutir o assunto no Senado e evitar que esses produtores fiquem em dívida com o Estado e impedidos, por exemplo, de pegar empréstimos. O decreto, que foi assinado ainda pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vencerá no próximo dia 11 de junho.
Mesmo sem ter confirmação que Dilma reeditará o decreto para dar mais prazo ao Congresso para concluir a reforma do código, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) disse hoje que os senadores não precisarão analisar o assunto com pressa. “Vamos ter o tempo que for necessário para que a discussão se processe e seja ampla.”
Se realmente o Senado aprovar emendas ao texto do novo Código Florestal, o projeto precisará voltar à Câmara para que os deputados deliberem se concordam ou não com as alterações. Só depois disso, a matéria seguirá para sanção presidencial, onde poderá receber vetos de Dilma. O texto passará pelas comissões de Constituição e Justiça, de Agricultura e de Meio Ambiente do Senado. A Mesa Diretora da Casa poderá ainda definir que ele passe também pelas comissões de Assuntos Sociais e de Assuntos Econômicos antes de ir para votação no plenário.
Quem votou contra o texto
Um total de 63 parlamentares votaram contra o texto principal do Código Florestal, que, entre outros pontos, deixava para um decreto presidencial indicar quais atividades poderiam ou não ser mantidas nas Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Os 12 integrantes do PV votaram ‘não’ ao texto do relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Os outros votos contrários foram os seguintes:
Brizola Neto (PDT-RJ)
Teixeira (PDT-RJ)
Paulo Rubem Santiago (PDT-PE)
Reguffe (PDT-DF)
Vieira da Cunha (PDT-RS)
Arnaldo Jordy (PPS-PA)
Roberto Freire (PPS-SP)
Dr. Paulo César (PR-RJ)
Liliam Sá (PR-RJ)
Audifax (PSB-ES)
Glauber Braga (PSB-RJ)
Luiza Erundina (PSB-SP)
Deley (PSC-RJ)
Ricardo Tripoli (PSDB-SP)
Chico Alencar (Psol-RJ)
Ivan Valente (Psol-SP)
Alessandro Molon (PT-RJ)
Amauri Teixeira (PT-BA)
Antônio Carlos Biffi (PT-MS)
Artur Bruno (PT-CE)
Chico D’Angelo (PT-RJ)
Cláudio Puty (PT-PA)
Domingos Dutra (PT-MA)
Dr. Rosinha (PT-PR)
Erika Kokay (PT-DF)
Eudes Xavier (PT-CE)
Fátima Bezerra (PT-RN)
Fernando Ferro (PT-PE)
Fernando Marroni (PT-RS)
Francisco Praciano (PT-AM)
Henrique Fontana (PT-RS)
Janete Rocha Pietá (PT-SP)
Jesus Rodrigues (PT-PI)
Jilmar Tatto (PT-SP)
João Paulo Lima (PT-PE)
Leonardo Monteiro (PT-MG)
Luiz Alberto (PT-BA)
Márcio Macêdo (PT-SE)
Marcon (PT-RS)
Marina Santanna (PT-GO)
Nazareno Fonteles (PT-PI)
Newton Lima (PT-SP)
Padre João (PT-MG)
Padre Ton (PT-RO)
Paulo Pimenta (PT-RS)
Pedro Uczai (PT-SC)
Professora Marcivania (PT-AP)
Rogério Carvalho (PT-SE)
Sibá Machado (PT-AC)
Valmir Assunção (PT-BA)
Waldenor Pereira (PT-BA)
Votaram ‘sim’ ao texto do relator os deputados do PTdoB, PTC, PTB, PSL, PRTB, PRP, PRB, PP, PMN, PMDB, PHS, PCdoB e DEM.
fonte: Agência Brasil/Jornal do Brasil
Edição: João Carlos Rodrigues