Arthur Chioro: “Que os médicos fiquem como funcionários”

Arthur Chioro, secretário da Saúde de São Bernardo Campo e presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems-SP)

por Conceição Lemes – Viomundo

A prefeitura de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, pleiteou 33 médicos ao programa Mais Médicos, lançado pelo governo federal em julho.

Por enquanto estão previstos quatro nesta fase inicial. A primeira profissional, Kátia Regina Marquinis, 39 anos, já começou a trabalhar. Com residência em cardiologia e oftalmologia, ela vai atuar como médica generalista em uma das equipes de Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde (UBS) Batistini.

A partir do dia 16, devem chegar os outros dois médicos que estão fazendo curso de capacitação. Um mexicano de Guadalaraja e uma brasileira formada na Espanha.

“Para nós, pelo menos, começou tudo bem”, diz, animado Arthur Chioro, secretário da Saúde de SBC. “A nossa primeira médica foi recebida com festa pela comunidade.”

Não é o que está acontecendo em muitos municípios. Há médicos brasileiros selecionados desistindo de tomar posse. Seria um boicote?

“Há municípios em que os médicos deram início na terça, na quarta. E eles têm até este domingo, dia 8, para iniciar as atividades. A partir daí, serão considerados desistentes. Como as unidades básicas de saúde não funcionam aos sábados e domingos, o dia D será segunda-feira”, avalia Chioro. “Mas os dados estão dentro das expectativas, não há nada de anormal.”

Chioro é presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP).

“Boicote? Pode também estar havendo algum, mas ainda não dá para fechar o diagnóstico ”, observa. “Num país que tem emprego pleno na área médica, não é estranho que as pessoas desistam. Quem tem o diploma validado está recebendo a toda hora ofertas de trabalho, porque está todo mundo contratando não só na área pública, no setor privado também.”

Chioro está à frente da Secretaria da Saúde de São Bernardo desde 2009. Ele pegou a cidade com apenas oito equipes de Saúde da Família. Hoje tem 100. Mas a cidade planeja chegar a 150 equipes. Em cada uma há um médico. Ao todo, trabalhando na rede municipal de São Bernardo, há cerca de 1.360 médicos.

“Eu não tenho nenhuma dificuldade para colocar médico no centro da cidade ou nas unidades básicas de saúde que ficam à beira da Anchieta e Imigrantes”, expõe Chioro. “Agora, mais na periferia, onde a falta de médicos cruza com a pobreza, como na Vila São Pedro, no Bairro Santa Cruz, que fica depois da represa Billings e só se chega lá de balsa, eu não consigo. Tanto que os três primeiros profissionais já designados, estou colocando nos locais mais complicados.”

Os médicos que estão indo trabalhar em São Bernardo mediante o programa Mais Médicos receberão R$ 10 mil (pagos pelo Ministério da Saúde), auxílio moradia e alimentação (a cargo das prefeituras).

“Os que vierem para cá não vão se arrepender”, garante Chioro. “Eles vão trabalhar em unidades com excelente infraestrutura e bem equipadas e nós vamos fazer o melhor, para que depois fiquem como nossos funcionários.”

A expectativa é que os estrangeiros e os brasileiros formados no exterior façam a revalidação e depois continuem trabalhando em São Bernardo, aí como funcionários, mesmo, e não como bolsistas.

“Emergencialmente, é admissível que venham como bolsistas”, diz Chioro. “Agora, se quisermos efetivamente fortalecer o sistema público de saúde, será preciso formar médicos em número adequados às necessidades do SUS e criar rapidamente o plano de carreira no SUS para os profissionais de saúde e não apenas para os médicos.”

Em São Bernardo do Campo, diferentemente do que ocorre na maioria dos municípios brasileiros, os médicos são contratados pela CLT, têm direito a Fundo de Garantia, vale alimentação. O salário é de R$ 14.600,00 para 40 horas semanais para o médico de família.