As brasileiras

Correio Braziliense – 19/03/2012

Ainda que injustiçada por não receber salário idêntico ao dos homens em trabalho igual ao deles, medida adotada agora pelo governo Dilma, a mulher brasileira é a que se diz a mais feliz do mundo, segundo as pesquisas internacionais. De minha parte, creio que essa seja a melhor homenagem que elas fazem aos companheiros, filhos, netos e amigos, apesar de todos os defeitos que eles possam ter. Marido de uma dessas heroínas, desde 1954, quando a esposei, tivemos zangas normais e, ela, professora do ensino médio, infelizmente, desde 1975, com menos de 50 anos de idade, tornou-se paciente do mal de Alzheimer. Sua fragilidade de cristal e seu desligamento completo do mundo, em razão da doença, não permitiram, aos que vivemos à sua volta — marido, irmã, filhos, filha, netos, netas, bisneta, amigos, enfermeiras — externar-lhe mais do que nossos melhores sentimentos.

Por que falo de tais coisas, passados 35 anos da manifestação da doença? De modo algum é compaixão, mas alegria de externar esperança para minha mulher e todos os doentes do mal de Alzheimer. Na página de Saúde do Correio Braziliense de 24 de fevereiro último, Paloma Oliveto mostrou novos caminhos de ataque a essa doença neurodegenerativa. Após duas semanas de aplicação de bexaroteno, desapareceram 75% das placas de beta-amiloides das células cerebrais, causadoras do mal de Alzheimer.

Essa limpeza de células doentes, algo nunca ocorrido até agora, abre, pois, grandes esperanças aos pesquisadores e aos doentes. Este jornalista, jejuno em neurologia e em qualquer doença, entrega-se, de corpo e alma, à torcida mais fanática que houver, por qualquer melhora no mal de Alzheimer. Quem faz esse estudo é Gary Landreth, da Faculdade de Medicina de Case Western (EUA). Ele trabalha para resolver o problema dessa doença, que há 100 anos destrói milhões de cérebros sadios. Não se sabe, na cura do mal, como ficarão os curados. Tal feito será festejado. Parentes e amigos falarão à minha mulher, Terezinha Luzia, dos livros que ela não leu, dos filmes que não viu, das canções que não ouviu. Tudo,  depois fruirmos, com ela e todos os curados, sob a luz nas trevas de Alzheimer, os milhões de seres humanos que nascerão de novo.