As dificuldades de acesso à rede anticrack
Os investimentos na guerra contra o crack previstos pelo governo federal têm um desafio a cumprir no Rio Grande do Sul: ampliar o acesso de quem vive nas ruas ao sistema público de atendimento.
Uma pesquisa realizada com usuários de crack que buscam auxílio no Rio Grande do Sul revela que a assistência especializada não consegue beneficiar os dependentes que vivem nas ruas. O estudo sobre o perfil de 95 vítimas da droga, atendidas entre agosto de 2009 e março de 2010 em três Centros de Atenção Psicossocial (Caps), demonstra que a maioria de quem recorre à rede de atendimento tem alguma forma de renda e ainda mora com a família. Quem tem condição social mais vulnerável acaba ficando à margem dos centros de auxílio.
Publicado na edição de novembro dos Cadernos de saúde Pública, da Escola Nacional de saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o estudo foi realizado por pesquisadores do Programa de Pós-graduação em saúde Coletiva da Unisinos, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com apoio de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Prontamente – Clínica de Psiquiatria e Psicoterapia. A principal constatação é de que viciados que deixaram suas casas estão desassistidos.
– Esse atendimento tem de chegar a esses usuários onde eles estão – afirma o coordenador da pesquisa, o psiquiatra e doutor em Psicologia Rogério Horta.
Conforme ele, após a pesquisa feita em Caps dos municípios de Igrejinha, Taquara e Novo Hamburgo, ficou evidente que são os usuários que ainda têm renda e moram com a família os que procuram o serviço.
– As equipes que atendem esses serviços no Interior estão mobilizadas e atentas ao problema do crack, mas são insuficientes, não por negligência dos gestores locais, mas por que os recursos, no seu conjunto, são ainda insuficientes, e essas equipes precisam de mais profissionais e de uma articulação ainda maior e melhor com equipes de Estratégia de saúde da Família (ESF), com programas de redução de danos, que muitas vezes nem estão disponíveis, ou com a recém-lançada estratégia dos consultórios de rua do Ministério da saúde – avalia Horta.
Zero Hora: 19/12/2011