Atividades no ambiente doméstico comprometem salário das mulheres
Aquele chorinho de fome durante a madrugada pode ecoar além dos quartos do bebê e do casal, e acabar influenciando a vida profissional de mães mundo afora. Um estudo realizado pelo Centro Internacional de Pobreza, publicado este mês em português, analisou a média salarial de homens e mulheres em diferentes idades e encontrou no ambiente doméstico parte da explicação para o fato de o ganho das trabalhadoras serem menores que o dos trabalhadores. A tese é de que as mulheres priorizam a criação dos filhos.
Intitulado Diferenças Salariais por Gênero ao Longo da Vida Laboral, o estudo investigou em 2006 a diferença entre a média salarial por hora de homens e mulheres ao longo da vida profissional em três países (África do Sul, Brasil e Tailândia), já descontados fatores como escolaridade, localização geográfica e cor.
Com base em pesquisas domiciliares, os autores do estudo — a sul-coreana Hyun H. Son e o indiano Nanak Kakwani — observaram que no Brasil e na Tailândia o salário médio das mulheres chega a ser maior que o dos homens entre 15 e 25 anos (no caso brasileiro, as elas recebem cerca de 10% a mais). A partir dos 26 anos, os homens passam a receber mais — a diferença aumenta até a faixa de 46 a 55 anos e diminui depois, mas os trabalhadores permanecem ganhando mais que as trabalhadoras. Já na África do Sul a desvantagem do salário feminino é constante.
Tendência parecida com a do Brasil e da Tailândia foi detectada no Reino Unido, segundo uma pesquisa citada pelo estudo. Lá, o salário médio por hora feminino em relação ao masculino traça uma linha no gráfico que tem a forma de um “U” — a diferença é menor no início e no fim da carreira e maior no período intermediário.
“As mulheres escolhem sacrificar as suas carreiras profissionais quando têm filhos, o que leva a uma redução dos ganhos nas suas profissões”, afirmam os economistas. “Assim, as diferenças salariais por gênero no mercado de trabalho derivam da divisão das tarefas em casa, sendo as mulheres as principais responsáveis pelo cuidado com os filhos.”
Além da maternidade, fatores sociais e culturais podem explicar a diferença de salários entre os sexos, constatam os autores. “Outra razão para a existência dessa disparidade salarial tem relação com as distintas escolhas profissionais e acadêmicas feitas pelos homens e mulheres. No período escolar, garotos e garotas têm afinidades em disciplinas diferentes, porém aquelas escolhidas pelos garotos os direcionam a caminhos profissionais bem pagos”, analisa a pesquisa. “Posteriormente, homens e mulheres se especializam distintamente e trabalham em diferentes profissões. Como resultado, a média salarial por hora paga a uma trabalhadora no início e durante sua vida profissional tende, em geral, a ser menor do que a de um trabalhador (como observado na África do Sul), embora ela provavelmente seja mais qualificada.”
Os governos “podem subsidiar creches como forma de reduzir os custos de oportunidades de trabalho e de aumentar a produtividade das mulheres no mercado de trabalho”, sugere o estudo. “Os governos também podem adotar programas que aumentem as opções de escolha das disciplinas pelas meninas, assim como aperfeiçoar o serviço de aconselhamento profissional nas escolas, de forma a encorajá-las a seguirem profissões em áreas como ciências e matemática. Esse tipo de ação pública pode contribuir para a redução dos diferenciais salariais por gênero durante a vida profissional”, completa.
A edição 13 da revista Poverty in Focus, do Centro Internacional de Pobreza, aborda a questão da igualdade de gênero. Publicada no primeiro bimestre deste ano, ela traz 14 artigos, em inglês, relacionados ao tema.
Fonte: PNUD Brasil