Brasil chega a 650 mil mortes com estimativa de 30% de subnotificação em numero de casos
Artigo de Heleno Rodrigues Corrêa Filho
Brasil tem registros oficiais nos estados e DF de 28,9 milhões de casos com 650 mil óbitos acumulados desde 2020 pela COVID-19. Como são registros de testagem e o país é um dos piores do mundo em relação a testagem sistemática (296 testes por milhão de habitantes), considera-se que esse número se refere a atendimentos documentados com sub-registro provável maior que 30%. A Argentina testa o dobro e a Índia testa quase duas vezes mais que o Brasil, entre os onze países com maior número absoluto de casos no planeta. E no Brasil existe o SUS, enquanto na Índia toda testagem é paga no ato pelo cidadão.
Isso faz estimar que teríamos na realidade 35,6 milhões de casos ou 18% da população geral do país com evento de contágio e adoecimento sintomático reconhecido por COVID-19 em todas as formas, cepas virais e casos sintomáticos.
Considerando que de 60% a 80% dos casos são assintomáticos, é possível que 100,0 milhões de brasileiros tenham tido infecção pelo SARS-COV-2 somando formas assintomáticas (70%) com formas clínicas com sinais e sintomas (30%). Isso equivale a 46,7% de contágios assintomáticos e com sintomas entre os 214,3 milhões de habitantes do Brasil estimados pelo IBGE para março de 2022.
Como a vacinação foi deliberadamente atrasada em dois a quatro meses pelo governo federal, com base em argumentos de ordem técnica no licenciamento das vacinas e na compra de lotes sem reserva de produção apesar das ofertas dos laboratórios produtores, o percentual de infecções na população geral é ainda maior que as possíveis projeções feitas com base na subnotificação dos casos.
Devemos, portanto, nos interessar mais pela taxa de reprodução geral do vírus monitorada pelos casos conhecidos e notificados. O Número Reprodutivo Efetivo (Rt) sobre os casos gerados a partir de contato com um caso conhecido é DESCONHECIDO no Brasil em virtude do “apagão de dados” federais e da dificuldade de coleta, consolidação e análise dos dados estaduais pelo Ministério da Saúde do Brasil. Vários sites internacionais de monitoramento dizem que os dados brasileiros não são confiáveis. As estimativas locais para alguns estados e Distrito Federal são feitas com atraso de três meses – em março temos dados para os primeiros dias de janeiro de 2022. Algumas estimativas falam que o Rt está em torno de 1,0 e outras dizem abaixo de 1,0, o que poderia significar uma retração da pandemia no Brasil. O site oficial do Ministério da Saúde do Brasil [Datasus] não menciona, não estima nem exibe dados do Rt.
Os dados oficiais do Ministério da Saúde mostram um recrudescimento intenso do número de casos sintomáticos notificados de COVID-19, com aumento de 2,42 vezes acima do maior pico de número de casos notificados em agosto de 2021 (540 mil casos por semana) chegando a março de 2022 com uma nova onda (1,3 milhão de casos na semana 4 em janeiro).
No Brasil estima-se que morram 3,7 mil pessoas por milhão de habitantes, o que coloca o país como aquele em que mais se morre de COVID-19 no planeta, apesar da Pandemia voltar a avançar nas últimas semanas na Rússia, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Itália e Iran, repetindo o padrão de ataque da COVID-19 que se inicia em ondas novas no hemisfério norte antes de atingir o mundo do hemisfério sul.
As condições de mortalidade e avanço Pandêmico poderiam ser contrabalançadas pelo avanço da vacinação. Neste aspecto, o SUS conseguiu colocar o Brasil como o nono país que mais vacinou proporcionalmente sua população, registrando 73% da população vacinada com duas doses ou curso vacinal completo contra a COVID-19. Destacam-se Emirados Árabes, Portugal, Chile e Cuba com mais de 87% da população vacinada.
Nesta nova onda a Universidade de Johns Hopkins estima que morreram na última semana 28 mil pessoas por Covid-19 no Brasil. O gráfico mostra um aumento das mortes no mês de janeiro de 2022 paralelamente a uma queda no ritmo de vacinação contra a doença no mesmo período. Isso significa que ao enfrentar o impacto da nova onda estamos vacinando menos e mais lentamente, o que certamente irá se refletir em maior taxa de reprodução de casos novos, com maior mortalidade absoluta e relativa.
Vemos que a vacinação caiu em ritmo acelerado enquanto o número de casos novos e de mortes aumentaram. Isso significa que é errado avaliar que a Pandemia diminuiu por que estamos com doença mais leve. O número elevado de casos novos está alimentando os leitos hospitalares com pessoas graves que voltaram a morrer em número maior do que foi contabilizado nos meses de outubro a dezembro de 2021. Como não estamos vacinando em ritmo elevado e estamos liberalizando os controles sociais sobre atividades presenciais de trabalho e estudo, estamos colocando maior número de pessoas em risco de gerar novos casos.
É previsível que a mortalidade subirá nas próximas semanas de março e abril de 2022, com governadores e prefeitos brasileiros desejando fazer campanha eleitoral pela suposta normalidade, às custas de liberalizar o contágio sem contrapartida de vacinação e medidas de barreira, como o uso de máscaras, higiene das mãos, e restrição de contatos com pessoas com sintomas gripais.
A Pandemia não acabou, as mortes aumentaram, e o Ministério da Saúde se nega a oferecer cálculos confiáveis sobre a taxa de reprodução da doença por unidades da federação do Brasil.