Brasil deve usar presidência do G20 para apoiar sistemas universais e promover descolonização da Saúde

Sanitaristas discutem, em três artigos publicados no British Medical Journal (BMJ), prioridades para a liderança brasileira

A presidência do G20 aumenta a capacidade do Brasil de promover pactos globais. Em artigos publicados no British Medical Journal hoje, 23/7, sanitaristas brasileiros discutem perspectivas para a liderança brasileira e medidas para enfrentar a crise política, social, econômica, ambiental e de saúde.

Sob o lema “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, as prioridades propostas pelo Brasil no G20 são a inclusão social e o combate à fome e à pobreza; transições energéticas e promoção do desenvolvimento sustentável; e reforma das instituições de governação global. 

A primeira prioridade aborda duas dimensões poderosas dos determinantes sociais da saúde, avaliam Paulo Buss e João Estephanio, Vitoria Kavanami, e Pedro Burger, em artigo. A segunda inclui pactos relacionados com a transição verde, também transformadores. A terceira prioridade visa revigorar e transformar o multilateralismo. O Brasil também deveria considerar o lançamento de uma estratégia de saúde como ponte para a paz, buscando proteger serviços de Saúde, profissionais e a população civil em área de conflito, afirmam os autores.

A perspectiva de descolonização da Saúde Global é discutida no artigo de Deisy Ventura, Jameson Martins, Adriana Leme e Pamella Pereira. O artigo destaca três dimensões centrais de descolonização: a condenação das ideias e práticas coloniais persistentes no domínio da saúde; um apelo à justiça e à equidade, promovendo a exigência de redistribuição do poder e dos recursos concentrados no norte global, e uma mudança de foco do centro para a periferia, questionando os modelos do norte global e substituindo-os por “modelos de autodeterminação que centram o sul global no papel principal”.

Existe um potencial real para a presidência brasileira do G20 alcançar resultados significativos para reformar a arquitetura global de saúde, concluem Vitor Ido, Matheus Falcão, Mirza Portillo e Yuanqiong Hu. Para que isso aconteça, o Brasil precisa mobilizar o grupo de trabalho da saúde do G20 para alcançar um tratado sobre a pandemia baseadas na equidade. Em segundo lugar, precisa de promover infraestruturas públicas digitais como bens comuns, que não criem dependência de software, bases de dados e fornecedores de tecnologia privados. Em terceiro lugar, com base na resolução da 77.ª Assembleia Mundial da Saúde, deve canalizar mais recursos financeiros dos países do G20 para enfrentar questões como clima e a saúde, resistência antimicrobiana e consagrar o papel do conhecimento tradicional para a proteção do ambiente. A equidade na saúde precisa ser traduzida em compromissos financeiros concretos.

O G20 é o principal fórum de cooperação econômica internacional.  É composto por 19 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia) e dois órgãos regionais: a União Africana e a União Europeia. Os membros do G20 representam cerca de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, mais de 75% do comércio mundial e cerca de dois terços da população mundial.

09.09.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura da Cúpula do G20 – Sessão I: “Uma Terra”, no Bharat Mandapam, 2° andar, Plenário da Cúpula. Nova Delhi – Índia | Foto: Ricardo Stuckert / PR