Brasil salta de 4º mais vulnerável para 4º menos vulnerável
O mais recente ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dos Estados brasileiros mostra um país partido ao meio. Os números, referentes a 2005, revelam que todos os 11 melhores IDHs são de unidades da Federação do Sul, Sudeste e Centro-Oeste – com destaque para o Distrito Federal, na primeira colocação. Já os piores são os nove Estados nordestinos — não há um Estado sequer do Nordeste com IDH melhor que o de qualquer outra parte do Brasil, segundo o relatório Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente – A experiência brasileira recente, lançado por três agências da ONU: CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), OIT (Organização Internacional do Trabalho) e PNUD.
“Sem dúvida, [o documento] mostra um Brasil dividido. Isso se dá por conta da concentração de renda e da atividade econômica em termos geográficos. A produção ainda é muito mais concentrada no Sudeste e no Sul”, afirma Renato Baumann, coordenador-geral da publicação. O estudo, lançado em 8 de setembro em Brasília, é o primeiro a trazer uma série histórica, ano a ano (de 1991 e 2005), do IDH dos Estados e das regiões do Brasil.
O melhor índice, o do Distrito Federal, é de 0,874, igual ao da Hungria e superior ao de países como Argentina e Emirados Árabes Unidos. A unidade da Federação é líder no ranking em todos três subíndices que compõem o indicador elaborado pelo PNUD (leia mais sobre a composição do IDH no texto ao lado), mas o destaque fica para a renda per capita: o índice relativo à renda (0,824) é muito superior ao do segundo colocado nesse quesito (São Paulo, com 0,768). O IDH-Educação (o componente de instrução do índice) do Distrito Federal é maior que o da Itália, Suíça e Alemanha – esse item, no entanto, mede freqüência à escola e alfabetização, e não qualidade do ensino. Seu IDH Longevidade (que leva em conta a expectativa de vida) supera o de Omã e Argentina, por exemplo.
O segundo lugar no IDH é de Santa Catarina (o Estado que mais melhorou no ranking de 1991 até 2005, ganhando três posições), com 0,840. Em seguida vem São Paulo (que registrou o segundo menor crescimento desde 1991), com 0,833.
Na ponta debaixo , Alagoas, que tinha o pior IDH em 1991, continuou na mesma posição em 2005, com 0,677. Da mesma forma, Maranhão, Piauí e Paraíba não deixaram de ser o segundo, terceiro e quarto piores, respectivamente. Entre todos os índices que compõem o IDH, Alagoas só não tem a pior posição no quesito renda — o IDH-Renda de Maranhão é menor.
Lenta melhora
Entre 1991 e 2005, o IDH de todas as unidades da Federação melhorou. A região Nordeste, que registra os piores números desde a década passada, foi a que teve também o maior crescimento do índice: 16,3%. Depois vêm Sudeste e Centro-Oeste, ambos com 10,9%. O Sul, que mantém os seus três Estados entre os seis primeiros IDHs também desde a década passada, foi o que menos evoluiu no indicador: 8,5%. Dos dez Estados com maior variação no índice, nove são nordestinos. Os de melhoria mais forte foram Paraíba, Piauí e Bahia.
O vetor da melhoria recente está, segundo o relatório, na educação. “É possível dizer que, das três dimensões do IDH (renda, educação e longevidade), o destaque foi a elevação da instrução. Em todas as unidades da Federação o índice de educação foi o que mais cresceu entre 1991 e 2005. A evolução do IDH-Educação — e, de modo menos pronunciado, do IDH-Longevidade — contribuiu para que diminuísse consideravelmente a diferença (…) entre os níveis de desenvolvimento das regiões brasileiras.”
“Há uma certa desconcentração geográfica do processo produtivo em curso. Setores como o calçadista, de automóvel, estão se expandindo tanto da região metropolitana para o interior quanto do Sul/Sudeste para o Nordeste. Isso leva a aumento de renda per capita, de exigência por mão-de-obra qualificada (o que influi na educação) e, conseqüentemente, a maior atendimento público de saúde — o que influi na longevidade”, explica Baumann. “De qualquer forma, essa distribuição ocorre em ritmo lento”, avalia.
Metodologia diferente
Para analisar a variação dos níveis de desenvolvimento humano nos Estados brasileiros e no país como um todo, o relatório calculou os dados do IDH de 1991 a 2005. O resultado, porém, é fruto de uma metodologia diferente da usada pelo PNUD nos Relatórios de Desenvolvimento Humano e no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.
No relatório publicado em 8 de setembro, o cálculo é feito com base na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), um levantamento socioeconômico feito anualmente pelo IBGE. Os dados de 1991 e 2000 (anos em que não houve PNAD, mas Censo) foram adaptados para permitir a comparação com o restante da série histórica. No Atlas, há números apenas de 1991 e 2000, extraídos do Censo.
No Relatório de Desenvolvimento Humano, publicado anualmente em Nova York, alguns indicadores são diferentes dos usados no estudo brasileiro. Para calcular o IDH Renda, por exemplo, o relatório internacional usa o PIB per capita; no documento lançado na semana passada, é usada a renda familiar per capita.
Entenda o IDH
O IDH é um índice criado pelo PNUD e calculado para diversos países desde 1990. Originalmente proposto para medir a diferença entre países, foi adaptado para ser aplicado também a Estados e municípios. O índice vai de 0 a 1 — quanto mais perto do 1, maior o desenvolvimento humano.
O cálculo é feito pela média simples de três componentes:
>> IDH Longevidade: indicador de longevidade, medida pela esperança de vida ao nascer;
>> IDH Educação: indicador de nível educacional, medido pela combinação da taxa de alfabetização de pessoas de 15 anos ou mais (com peso 2) e da taxa bruta de matrículas nos três níveis de ensino (fundamental, médio e superior) em relação à população de 7<