Brasileiros gastam R$ 63 bi em remédio
Correio Braziliense – 10/04/2012
Vendas maiores na classe C elevam previsão do consumo per capita a R$ 386. O Sudeste ainda responde por 51,5% do mercado e o Norte, por modestos 5,5%
Os brasileiros estão gastando cada vez mais com medicamentos. A fatura deste ano chegará a R$ 63 bilhões, 13% a mais do que em 2011, salto duas vezes maior do que o reajuste de 5,85% nos preços que passou a vigorar em 1º de abril último. A classe C se tornou o grande destaque entre o público consumidor, segundo pesquisa do Ibope. Por uma simples razão: com o aumento da renda, passou a ter acesso a remédios que antes só tomavam se fossem doados pelo poder público. Ainda assim, os consumidores cortam um dobrado para cuidar da saúde. Em média, cada um gasta R$ 386,43 por ano, mais da metade de um salário mínimo, de R$ 622.
A funcionária pública Marly Licassali, 49 anos, sabe muito bem o peso dessas despesas. Todo mês ela desembolsa R$ 350 com produtos para combater o entupimento em uma das veias do coração ( Selozok, Aspirina Prevent e Rusovas), para tiróide (Levotiroxina) e para emagrecimento. Marly diz, aliviada, que o risco de cirurgia foi descartado pelos médicos.
Os remédios, porém, vão acompanhá-la pelo resto da vida. “O valor cobrado pelas farmácias é bem alto, mesmo com desconto. Mas não tem jeito, tomar remédio virou obrigação”, lamenta.
Pelas contas do Ibope, que monitora os gastos familiares, somente as classes C e B devem deixar R$ 50 bilhões nas redes de farmácias e drogarias. A classe, que corresponde a apenas 2,6% dos domicílios analisados, tem potencial de consumo de R$ 6,5 bilhões, o que representa 10% do volume. A campeã de consumo é a Região Sudeste, que registra a maior procura por medicamentos, com 51,5% do total, seguida pela Sul, com 17,35%, e Nordeste, com 17,5%. No Centro-Oeste, estão 8,14% do mercado e no Norte do país, 5,51%.
Regime
Quem depende de algum tipo de medicação não tem por onde fugir e, por consequência são os que mais contribuem para o crescimento nas vendas.
A bancária Matsuê Campos, 46 anos, se viu forçada a comprar dois remédios (Movatiz e Arpadol) prescritos para aliviar as dores na mão direita devido a uma tendinite. “Isso não estava nos meus planos, mas como passei a ir no médico regularmente, inclusive em especialista, me vi sem saída.” Matsuê afirma que desembolsará cerca de R$ 300 por mês até concluir o tratamento, que deve durar três meses. “Vou usar meu cartão de crédito, não vai ter jeito”, diz.
Além de engordar cerca de 40 quilos por causa do uso de medicação para perda de peso sem prescrição médica, a professora Luana Pereira Galiard, 28 anos, teve prejuízo financeiro em dobro. Este ano, ela precisará começar do zero e desembolsar R$ 130 por mês com apenas três remédios (Cloridato de Fluoxetina e subtramina, ambos para emagrecer), desta vez com orientação de um profissional. “Vai pesar no meu orçamento, mas tenho que corrigir o erro que cometi por conta própria”, afirma.
Peso no bolso
Remédios pesam cada vez mais no orçamento das famílias
Classes Gastos
sociais (Em R$ bilhões)
A 6,55
B 23,09
C 27,24
D e E 6,13
Região Consumo
per capita
(Em R$ por ano)
Norte 290,0
Nordeste 280,0
Sudeste 429,0
Sul 465,0
Centro-Oeste 402,3
Total 386,4
Fonte: Pyxis Consumo e Ibope Inteligência