Cebes assina nota de repúdio contra prefeito do Rio, Marcelo Crivela

O Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, e as entidades que subscrevem esta nota, vêm a público manifestar sua indignação e o mais veemente protesto contra a postura do Prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Crivella, quando reuniu, no evento denominado “Café da Comunhão”, no Palácio da Cidade, cerca de 250 pastores, pelo menos um deles (Rubens Teixeira) pré-candidato a deputado federal (PRB).

 

Ainda na campanha eleitoral Marcello Crivella prometeu, se eleito, não confundir política e religião – promessa repetida na solenidade de posse. Não precisava! Afinal, trata-se de princípio republicano, sistema sob o qual vivemos, e condiciona nossos processos políticos. Mas o sr. Marcello Crivella fez questão de prometer, como se estivesse propondo um novo princípio republicano. É, também, da lavra retórica do atual prefeito na campanha, a promessa de cuidar das pessoas – sugerindo que iria além de suas obrigações constitucionais, que iria prover o bem-estar de cada um e de todos, de forma pessoal.

 

Não foram necessários os tradicionais noventa dias para testar esta última promessa. O senhor prefeito esteve, sistematicamente, ausente quer nas tragédias, quer nas festas populares mais caras aos cariocas, chegando ao máximo de debochar do carnaval, retirando-lhe apoio financeiro e negando sua presença, numa verdadeira demonstração de fé no fim do carnaval.

 

De tanto constituir-se uma marca da atual gestão da prefeitura, as ausências e omissões já não produziam reações, num indesejável, mas natural conformismo. Eis que, no entanto, no último dia 05, o Sr. Prefeito, utilizando espaço e recursos públicos, reuniu líderes de sua religião e prometeu resolver problemas financeiros, acelerar soluções atropelando regras e normas, prover cirurgias no SUS em até cinco dias a partir da solicitação, tudo exclusivamente para a sua grei, furando a fila daqueles que esperam, às vezes até à morte, por uma vaga no sistema público de saúde.

 

Lembramos que as vagas para realização das operações cirúrgicas, e a distribuição das consultas de maior complexidade, no sistema de saúde, seguindo um dos mais importantes fundamentos do SUS, é operado por um sistema (SISREG) impessoal, seguindo critérios técnicos baseados na natureza do problema, e no risco a que está submetido o paciente.

 

Ao adotar sistema exclusivo para seus fiéis (o já alcunhado sistema Márcia), o sr. Prefeito ofende a cidadania, por estabelecer, na política pública, cidadãos de primeira e segunda categorias; os bem-aventurados (apontados pelos pastores – estes serão atendidos em suas demandas de saúde), e os ímpios, que devem expiar seus pecados padecendo uma longa espera numa fila para obter o que lhes é de direito; os escolhidos, definidos pelo credo que professam – detentores de um lugar no paraíso, e os pecadores para os quais restam a misericórdia.

 

Por vermos, com as atitudes do sr. Prefeito, um acelerado retrocesso nos valores republicanos, assim como nos fundamentos e organização do SUS, conclamamos todos os que se preocupam com a defesa dos direitos e da dignidade da pessoa humana, a unirem-se, utilizando-se de todos os legítimos recursos para a responsabilização do senhor prefeito e, com isto, iniciarmos uma campanha contra a apropriação do SUS pelas agremiações particulares.

 

Assinam esta nota:

 

– ASFOC-SN
– Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES)
– Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro
– Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro
– Sindicato dos Psicólogos do Estado do Rio de Janeiro – SINDPSI-RJ