Cebes Debate: Integrar serviços e rede de atenção é o maior desafio no próximo governo
Para discutir o fortalecimento da atenção primária de saúde e sua articulação com as redes integradas de saúde no próximo governo o Cebes convidou os Professores Claunara Schilling da UFRGS e Chico Poté (Francisco Cardoso) da UFMG para uma conversa o programa Cebes Debate, do dia 01 de agosto de 2022, com a mediação de José Noronha.
A presidente do Cebes, Lúcia Souto, abriu o programa com o desafio: como estimular a articulação do cuidado desde a atenção primária, passando pelo cuidado secundário ao de maior complexidade? Como aproveitar o que já aprendemos sobre integração de rede e o que temos como exigência de realizar e avançar neste momento?
Para Claunara, médica de família e comunidade, o maior desafio dos sistemas de saúde em todo o mundo é a integralidade dos serviços e da rede de atenção. Ela definiu três pontos fundamentais a serem observados no enfrentamento deste desafio. O primeiro é ter o sujeito no centro da atenção, o segundo é o cuidado multiprofissional com tecnologias de comunicação adequadas para maior acesso da população e o terceiro ponto fundamental é a padronização dos serviços, com estabelecimento de protocolos clínicos comuns em toda a rede.
Segundo ela, para um mesmo protocolo funcionar em diferentes pontos da rede é necessário ter infraestrutura do ponto de vista da distribuição, com profissionais certos nos lugares certos. O exemplo clássico que ela dá é quanto ao procedimento que reduz a mortalidade em idosos, alertando que se não houver de forma organizada o diagnóstico de catarata em um idoso(a) e a entrada deste idoso para realizar uma cirurgia que é ambulatorial, vai continuar com a tragédia de quedas e fraturas, que podem chegar ao óbito no final da vida.
O último ponto abordado pela professora Claunara é quanto aos fluxos, de forma a completar o espectro de necessidades de dada população dentro de um território.
Para a professora Claunara, o que demostra de forma mais evidente o problema da dificuldade de acesso a exames e diagnósticos é a manutenção do índice de mortalidade por câncer de colo de útero no Brasil. Quando este atraso acontece, a detecção atrasa também o tratamento de doenças que poderiam ser curadas se detectadas a tempo, em muitos casos.
Claunara diz que a integração da rede, mesmo sendo uma intervenção muito complexa, tem muitas evidências de melhorias: melhora, de fato, o cuidado; melhora o acesso; reduz hospitalizações e re-hospitalizações; melhora a adesão ao tratamento; e melhora a eficácia dos serviços. Mas a professora conclui que a atenção secundária não foi resolvida porque não se tem garantia de financiamento e, pior, não há controle sobre gastos de exames laboratoriais conforme mostram os vários estudos de controladoria que tem municípios brasileiros que possuem mais resultados de anti-HIV realizados do que três vezes a sua população.
Para o professor Chico Poté, da UFMG, o desafio da integração precisa ser vencido porque evidencias como os planos de cuidados individuais integrados desenvolvidos entre as equipes da atenção primária e as equipes da atenção especializada demonstram a oportunidade desta integração. Outros dispositivos tem sido tentados e aplicados em vários países.
O que no Brasil tem sido chamado de linhas de cuidado, de forma muito pouco precisa, outros países avançaram muito no que chamaram de processos assistenciais integrados e, na opinião do professor, o Brasil deve copiar de forma criativa este tipo de iniciativa. Porque se trata de uma prática que se estabelece entre vários serviços, onde estão definidas as responsabilidades de cada um e os mecanismos de avaliação destas intervenções. Chico Poté considera que, para alcançar este nível de monitoração, o Brasil tem que promover uma verdadeira transformação digital no setor saúde brasileiro.
Assista o debate na íntegra no link ou a seguir: