Cebes repudia ação violenta da polícia militar na USP

Em greve desde o dia 5 de maio, funcionários, estudantes e professores da Universidade de São Paulo (USP) – este último grupo aderiu à greve no dia 23 de maio – enfrentam a polícia militar que tomou o campus da universidade por ordem da reitora Suely Vilela e do governador de São Paulo José Serra. Por várias vezes, a Tropa de Choque da Polícia Militar do estado usou de atos violentos para impedir piquetes e manifestações dos grevistas que reclamam da demissão de Claudionor Brandão, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), e do projeto do governo Serra de demitir mais de cinco mil trabalhadores sob o pretexto de problemas nos contratos, revelam os movimentos estudantil e sindical. “A burocracia universitária comanda por Suely Vilela, indicada pelo ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, quer colocar as claras a ditadura existente na universidade para poder levar à frente as políticas de corte de verbas e privatização, colocando a tropa de choque na Universidade de São Paulo”, denuncia o Movimento Estudantil Causa Operária.

“Os policiais estão com uma atitude provocativa frente aos trabalhadores, arrancando as faixas dos grevistas, buscando abertamente causar incidentes. Isso se dá justamente após a reitoria, apoiada pelo governo do estado, ter suspendido as negociações com os trabalhadores de maneira completamente arbitrária”, relata a comissão de greve numa repressão da polícia no dia 1o de junho (Portal Vermelho). No dia 9/6, soldados da Tropa de Choque entraram em confronto com os manifestantes que tentavam bloquear a entrada do Portão 1 da universidade (Agência Brasil). Segundo a Agência Brasil, o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) e o Fórum das Seis, que representa sindicatos de professores e funcionários e entidades estudantis da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Centro Paula Souza (Ceeteps), se reuniram no dia 16/6 para a retomada das negociações entre a instituição e professores e funcionários. As negociações estão suspensas desde o dia 25 de maio.

Os trabalhadores pedem a readmissão do diretor do Sintusp, a incorporação de R$ 200 ao salário e 17% de reposição parcial das perdas desde 1989, a retirada de processos contra outros militantes e da multa de R$ 346 mil pela ocupação da reitoria em 2007, a garantia do emprego aos atuais 5.214 funcionários da USP contratados após 1988 que têm suas vagas questionadas pelo Tribunal de Contas e a derrubada do Sistema de Gestão de Pessoas por Competência.

O Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), que há mais de três décadas atua em defesa da saúde, da universidade pública, do diálogo e da democracia, vem manifestar seu  repúdio à ação violenta e à presença da Polícia Militar no campus da USP. Ao mesmo tempo, apoiamos as reivindicações dos funcionários, estudantes e professores das universidades estaduais paulistas, por melhoria das condições de trabalho e remuneração, por mais verbas para a educação, maior investimento em pesquisa, contratação de professores e ampliação de vagas no ensino público.”

Abaixo, relato do professor Pablo Ortellado, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, sobre os atos de violência que ocorreram na universidade, encaminhado por e-mail ao Cebes no dia 13/6:

Prezados colegas,

O que os senhores lerão abaixo é um relato em primeira pessoa de um docente que vivenciou os atos de violência que aconteram poucas horas atrás na cidade universitária (e que seguem no momento em que lhes escrevo).

Acabo de escutar a explosão de uma bomba. Peço perdão pelo uso desta lista para esse propósito, mas tenho certeza que os senhores perceberão a gravidade do caso. Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam.

Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. stimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.

Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções.

A assembleia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a Avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes, correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” por que soltam estilhaços, mas que machucam bastante) e de gás lacrimogêneo.

A multidão subiu correndo até o prédio da História/Geografia, onde a assembleia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas). Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás. Lembro da professora Graziela, dos professores Thomás, Alessandro Soares, Cogiolla, Jorge Machado e da professora Liz, todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás.

A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar.