Cebes: saúde é democracia. Democracia é saúde.

CEBES MAIS UMA VEZ: SAÚDE É DEMOCRACIA. DEMOCRACIA É SAÚDE

Faz 42 anos, em plena Ditadura Militar, um grupo de democratas e patriotas sobreviventes à perseguição fascista se juntavam ao crescente movimento de resistência ao regime e fundavam o Cebes – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde. Composto por profissionais de saúde que diante das assombrosas iniquidades nas condições de vida e saúde vigentes entenderam que sua superação estava indissoluvelmente ligada à reconquista e aprofundamento das liberdades democráticas. O lema fundador do Cebes diz que Saúde é Democracia e Democracia é Saúde! Ainda havia restrições sérias à liberdade de organização e expressão, mas já se antevia ao longe uma luz de restauração de alguns direitos políticos e sociais básicos. Doze anos se passaram até que a sociedade brasileira pudesse celebrar um pacto mínimo na Constituição que abrisse caminho para a construção de um Brasil mais rico e justo. Alguns passos nesse rumo foram dados com crescimento econômico, diminuição das desigualdades, com políticas sociais redistributivas, com a criação e desenvolvimento do Sistema Único de Saúde.

Não imaginou aquela geração que passados parcos 25 anos, as elites conservadoras do país desencadeariam um intenso processo de desmonte das políticas sociais, regressão econômica, reestratificação radical da sociedade brasileira. Menos ainda que cinco anos adiante ressurgiriam as sombras e ameaças de supressão das liberdades cívicas e políticas e o ressurgimento embrionário de falanges fascistas. O ódio e a consequente guerra aos pobres avançou, já provocando mais de 60 mil assassinatos por ano. O medo cresceu. As elites endinheiradas já não se sentem seguras em seus edifícios cercados, com o policiamento de suas ruas e condomínios entregues a milícias regularizadas sob o nome de “firmas de segurança”, em seus carros blindados. A classe média insegura de andar nas ruas, os pobres vítimas das arbitrariedades do tráfico, das milícias e da polícia. Há medo por toda a parte. Os jornais televisivos amplificam esse medo e transformam-se em tribunais arbitrários estimulando o ódio e o julgamento sumário como antídoto ao medo que semeiam. Há cada vez mais medo.

Medo e ódio juntam-se para promover soluções radicais e buscar inimigos fáceis. Um presidente declaradamente envolvido em escândalos de corrupção, cercado por ladrões, um congresso degradado, um raivoso discurso da grande mídia dos seis Berlusconis dos trópicos, um poder judiciário leniente com o ativismo político de seus membros e uma corte suprema acovardada legitimam e promovem direta e indiretamente a busca de soluções autoritárias. O Presidente do Supremo renomeia a ditadura militar de movimento e convoca um general como conselheiro ou, quiçá, orientador de suas decisões. O presidente, desmoralizado, institui uma Força Tarefa composto por membros das forças armadas orientado pelo general que já o tem inteiramente em suas rédeas. Com uma dose de sarcasmo ignorado pelos Berlusconis, o decreto que define como atribuição da Força Tarefa o combate ao crime organizado é publicado no mesmo dia em que o presidente é denunciado pela Polícia Federal por corrupção orquestrada demonstrada e documentada. Cresce a tutela das forças armadas. Cresce a demanda por arbítrio e decisões sumárias. Organizam-se grupos civis para propagar o medo e o ódio. Empresários inescrupulosos, seguros da impunidade, contratam firmas para espalhar nas redes sociais ódio e medo.

Regressão econômica, supressão de direitos, desmantelamento das políticas sociais, fragilização das instituições de coesão da nação, privatização desenfreada do patrimônio público, entrega de reservas estratégicas ao capital estrangeiro, garantia do monopólio da grande mídia, ocupação dos espaços de resistência das redes sociais, criminalização de movimentos sociais, abrem espaço para medos que haviam sido minimizados. Medo de expressar opiniões políticas e morais, medo de exercer suas orientações sexuais, medo de sua fé religiosa, medo do aumento da truculência policial, medo do predomínio da lei do mais forte no trânsito, nas discussões esportivas, medo dos vizinhos. O pior dos medos: medo de não conseguir resistir, sucumbir, capitular.

As trevas já estão nas ruas. Mas ainda não extinguiram o brilho da esperança e da luta. Há tempo de contê-las. Há tempo de vencê-las. É preciso que mulheres e homens de bem se entreguem incansavelmente com toda sua energia a bloquear a chegada de noite escura.

O Cebes sabe que sem democracia não haverá saúde. Que saúde é democracia.

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