CNS discute saúde da população em situação de rua

A saúde da população em situação de rua foi o segundo tema da pauta  deste primeiro dia da 255a reunião ordinária do Conselho Nacional de Saúde.

Na ocasião, a coordenadora nacional do Movimento da População de Rua e conselheira do CNS, Maria Lúcia da Silva, fez uma apresentação sobre os desafios para a construção de políticas públicas para pessoas em situação de rua. No que diz respeito à saúde, ela destacou que as ações públicas são extremamente precárias e reduzidas e, no caso de alguns estados, até inexistentes.

Maria Lúcia salientou ainda que existe um preconceito generalizado contra a população em situação de rua e que existe um senso comum que acha que estas pessoas não querem trabalhar e preferem morar na rua, o que não é verdade.

“Essa população não vive na rua porque deseja, mas pelo fato de que, em algum momento da sua vida, foram obrigadas a viver lá. Por isso, as políticas para o povo em situação de rua precisam ser integradas, reabilitando-as do uso de entorpecentes legais e ilegais, inserindo-as no mercado de trabalho, providenciando moradia e cuidando da saúde física e mental”.

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Ela denunciou ainda que, mediante a realização dos grandes eventos esportivos no país, os governos já começaram um processo de higienização da ruas com o recolhimento compulsório dos moradores de rua.

O Movimento da População de Rua ganhou recentemente vaga titular no CNS e tem buscado sensibilizar o Ministério da Saúde a implementar ações que atendam as necessidades desta população.

As Políticas do Ministério da Saúde

Em seguida, o coordenador geral de Apoio à Educação Popular e Mobilização Social do Departamento de Apoio a Gestão Participativa, Rui Silva, apresentou os avanços da discussão sobre a saúde da população em situação de rua a partir das ações do Ministério.

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Entre as políticas que tem sido adotadas, ele salientou a realização de oficinas por diversos setores do Ministério, a capacitação das lideranças do movimento e a implementação de mudanças na atenção básica que visem atender estas pessoas. Há também a previsão de que as equipes dos consultórios de rua serão ampliadas, passando de 114 para 206.

Depoimento

Durante o seu discurso, Maria Lúcia Santos Pereira da Silva deu o seu depoimento pessoal como ex-moradora de rua. Elaviveu 16 anos nas ruas da Bahia e atualmente é coordenadora nacional do Movimento da População de Rua e representa a entidade no CNS.

Aos 15 anos de idade Maria Lúcia foi obrigada a procurar as ruas, pois sua avó não tinha condições de sustentá-la. Neste período, foi levada pelo Juízado de Menores para um abrigo. Um ano depois, a situação precária e a convivência difícil com os demais abrigados levou ela a optar pela vida nas ruas.

Vivendo nesta situação, ela conheceu o álcool e as drogas, chegando ser usuária de crack. “O uso de entorpecentes é uma forma de não ver o preconceito, o desrespeito cotidiano, o frio e a fome”, explicou.

Segundo ela, se por um lado, era muito difícil acordar debaixo de chuva ou com o jato de água da prefeitura,  além de ser humilhada e espancada por cidadãos comuns e passar fome. Por outro, foi com o povo da rua que ela teve acolhimento e aprendeu a ser solidária.

Com a ajuda de algumas pessoas, Maria Lúcia conseguiu sair das ruas, deixar as drogas e trabalhar.