O parto não é um evento da medicina
Desmedicalizar a saúde e desospitalizar a doença: foram esses alguns dos muitos princípios que aprendi ao longo de meu curso médico, da minha atuação em consultório e em hospitais e, mais tarde, no intenso convívio com figuras ímpares em nossa atividade.
Há 47 anos dirijo um hospital geral no qual, por muitos anos, havia uma maternidade. Convivi com colegas importantes e representativos da obstetrícia, com um intenso movimento de internação.
Havia, entre eles, diferenças de posturas e de estatísticas, como no tempo de internação ou da utilização da sala cirúrgica, fosse por parto normal, fosse por uma operação cesariana. A seu lado, acompanhando as suas pacientes, estavam parteiras que se revezavam e ministravam cuidados pré e pós-parto.
América Latina: a lógica infernal do capital
Os Estados capitalistas dependentes que, na América Latina têm governos chamados progressistas que se recusam a adotar as políticas impostas pelo Consenso de Washington, estão presos numa engrenagem que devora continuamente os esforços a favor de uma mudança econômica e social, num mecanismo que reproduz e agrava o passado, afirmando por sua vez as políticas neoliberais que esses governos declaram recusar.
As suas economias vivem cada vez mais das exportações de commodities e ainda do cultivo de uns poucos de produtos exportáveis; além disso, necessitam de investimento estrangeiro para impulsionar uma industrialização de base e a criação de infraestruturas porque o grande capital controla a poupança nacional e exporta-a, e os grandes capitalistas fazem extração e levam, legal ou ilegalmente, capitais e ganhos por centenas de milhares de milhões de dólares.
A enfermaria vazia
No começo do século XX século, as práticas médicas de assistência ao parto, cruentas e arriscadas, continuavam encontrando enorme resistência das parturientes. Também no Brasil, desde o século anterior, além das mulheres de famílias ricas o suficiente para pagarem os honorários dos obstetras, em partos domiciliares ou hospitalares, as usuárias dos serviços médicos — os hospitais de ensino — eram as mulheres desvalidas, que não tinham aonde ir na hora do parto, e as parturientes de casos desesperados, que não haviam se resolvido com os recursos não-médicos. As demais eram atendidas por parteiras, mais leigas ou mais cultas, que davam consultas sobre vários temas, como cuidados com o corpo e tratamento de doenças venéreas. De acordo com relatos médicos, também ofertavam recurso para prevenir a concepção indesejada, para abortar, e eventualmente colaboravam com a exposição.