Claramente a favor do aborto

Há algum tempo, a política brasileira tem sido periodicamente chantageada pela questão do aborto. Tal chantagem demonstra a força de certos grupos religiosos na determinação do ordenamento jurídico brasileiro, o que evidencia como a separação entre Igreja e Estado está longe de ser uma realidade efetiva entre nós. Uma das expressões mais claras dessa força encontra-se no fato de mesmo os defensores do aborto não terem coragem de dizer isso com todas as letras.
Sempre somos obrigados a ouvir afirmações envergonhadas do tipo: “Eu, pessoalmente, sou contra, afinal, como alguém pode ser a favor do aborto? Mas esta é uma questão de saúde pública, devemos analisá-la de maneira desapaixonada…”
Talvez tenha chegado o momento de dizermos: somos sim absolutamente a favor do aborto. Há aqui uma razão fundamental: não há Estado que tenha o direito de legislar sobre o uso que uma mulher deve fazer de seu próprio corpo. É estranho ver algumas peculiaridades brasileiras. Por exemplo, o Brasil deve ser um dos poucos países onde os autoproclamados liberais e defensores da liberdade do indivíduo acham normal que o Estado se arrogue o direito de intervir em questões vinculadas à maneira como uma mulher dispõe de seu próprio corpo.

Estudo sobre aborto no Brasil é premiado

Dois cientistas de Brasília receberam ontem, em Washington, nos Estados Unidos, o prêmio mais importante sobre saúde pública nas Américas. Oferecido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o Fred L. Soper à Excelência em Literatura sobre Saúde Pública reconheceu, neste ano, como o melhor trabalho publicado no meio científico especializado o estudo Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna, de autoria do economista e sociólogo Marcelo Medeiros e da antrópologa Debora Diniz, ambos professores da Universidade de Brasília (UnB). Entre os méritos do trabalho, financiado pelo Ministério da Saúde, está a identificação da magnitude do aborto no país.

Aborto: a verdade nua e crua

Na pequena Paulo de Faria, município de 8,5 mil habitantes a 540 quilômetros de São Paulo, a dona da casa atende outra moradora da cidade, enviada por Carta Capital, através da janela. Parece ter receio e vergonha e não quer dar entrevista. Sua filha de 37 anos, viciada em drogas, está prestes a ir a júri popular na vizinha São José do Rio Preto. O crime pelo qual Keila Rodrigues é acusada foi ter utilizado um remédio para abortar dentro das dependências do hospital de base da cidade, em 2006. Denunciada por uma enfermeira, foi absolvida em primeira instância, mas no início do mês o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu submeter o caso a júri popular. Se for condenada, pode pegar de um a três anos de reclusão.

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