Descaso deixa saúde pública sem remédio
Correio Braziliense – 03/08/2012
Ninguém pode alegar surpresa com o suceder dos dias e das noites, das estações do ano ou das fases da Lua. Tão certo quanto esses fenômenos da natureza, é a necessidade de repor estoques nas farmácias hospitalares. Nem o mais delirante sonhador pode imaginar que os doentes se curarão à medida que frascos e caixas sumirem das prateleiras. Mais: além de zerar os enfermos, a mágica impediria o surgimento de novos casos. Só assim se entenderia a falta de medicamentos — essenciais ou não — na rede pública de saúde.
Os números fartamente divulgados não autorizam fechar os olhos nem, tampouco, cair nos braços de Morfeu. Segundo estudo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), tumores malignos mataram 161 brasilienses em 2011. Em 2012, de acordo com o mesmo levantamento, o câncer de mama atacará 880 mulheres da capital. Apesar do alerta, a Secretaria de Saúde não muda o script.
A tragédia se repete no Distrito Federal. Há dois meses, a Farmácia Ambulatorial do Hospital de Base não dispõe de Tamoxifeno. A droga é indispensável ao tratamento de mulheres que se submeteram a mastectomia. Sem ingeri-la, elas correm o risco de amargar recaída ou, até, perder a vida. É o caso de 600 pacientes atendidas por hospitais da capital da República.
Algumas talvez possam dispor de recursos para adquirir o remédio. Poderão continuar o tratamento. Outras, porém, terão o quadro agravado. Serão forçadas a se submeter a terapia mais longa e mais cara. No fim das contas, o descaso do Estado, além de roubar saúde e vidas, punirá o contribuinte, que paga uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo sem, como se vê, receber a justa contrapartida.
Não é a primeira vez que se observa a falta de medicamentos na rede pública de saúde do Distrito Federal. Em todas a desculpa se repete — problemas no processo de compras. Ora, adquirir drogas é rotina no sistema que trata males físicos ou psicológicos. Por que não antecipar-se ao problema? A resposta talvez seja falta de planejamento. É inaceitável.
Os administradores têm obrigação de prever as necessidades do setor e tomar as providências para atendê-las. Trancar as portas depois de ter a casa arrombada é atestado de incompetência. Impõe-se profissionalismo — sobretudo em área que responde pela vida.