Dilma é a ‘preferida’ nas doações de planos de saúde
Por Evandro Éboli.
Dilma Rousseff foi a escolhida, entre os presidenciáveis, a preferida dos planos de saúde. No levantamento parcial até o momento junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) somente a petista recebeu doação de campanha do setor: R$ 4 milhões da empresa Amil. Ao todo, planos e seguros de saúde já doaram R$ 8,3 milhões. Quase metade foi destinada a Dilma. Na relação, 30 candidatos, até agora, receberam dinheiro dos planos para suas campanhas. Há um candidato a senador – Ronaldo Caiado (DEM-GO), que é médico e defensor desse setor – 15 postulantes a deputado federal e 13 a deputado estadual. Do total doado, R$ 3,1 milhões foram para 18 diretórios estaduais de 10 partidos distintos, do DEM ao PT, do PSC ao PSB. Esse levantamento foi feito com base em duas parciais de prestação de contas no TSE. Essa prestação pode se dar até 30 dias após as eleições.
O levantamento da relação planos/candidatos foi feito pelos professores Ligia Bahia, DA UFRJ, e Mario Scheffer, da USP, especialistas e estudiosos desse área. Eles lembram que tem sido comum a nomeação de representantes dos planos de saúde para cargos estratégicos na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Vários diretores da ANS eram quadros oriundos ou indicados por empresas.
Em 2010, o total doado por essas empresas foi de R$ 11,8 milhões, para campanhas de 153 candidatos. Destes, 72 foram eleitos, incluindo a presidente e quatro governadores. Os planos tentam formar sua bancada no Congresso, que defende seus interesses no Congresso.
A bancada da saúde suplementar aprovou na Câmara e Senado, por exemplo, a medida provisória que tratou da cobrança do PIS/Cofins, que permitiu mudança na base sobre qual os tributos incidem. Os planos foram beneficiados com uma redução de 80% na base de cálculo.
— A atividade de lobby dos planos de saúde é antidemocrática e preserva a sub-representação de segmentos populacionais historicamente carentes e excluídos de direitos — afirmou Mário Scheffer.
— Grupos empresariais fortalecidos com financiamento de campanhas e consequente proximidade com o núcleo dirigente do país, e que passam requerer isenções, anistias fiscais e o não pagamento de multas e taxas administrativas, são os mesmos que constroem e disseminam uma narrativa sobre o fracasso e a falência do Sistema Único de Saúde (SUS). Estabelecem uma pauta de prioridades que inviabiliza o SUS — disse Ligia Bahia.
Para os autores, as empresas de planos de saúde, ao disputar agendas e políticas públicas, elegendo representantes no Congresso Nacional, têm mais chances de expor ao Executivo medidas para reter maior parcela do fundo público para seus negócios.
O estudo dos professores afirma ainda que há uma crescente insatisfação dos brasileiros que usam o plano de saúde, devido a uma série de fatores.
“Exclusões de cobertura, barreiras de acesso para idosos e doentes crônicos, reajustes proibitivos de contratos, demora no atendimento, número de médicos, hospitais e laboratórios incompatível com a demanda e as necessidades de saúde dos usuários, baixa qualidade assistencial e problemas na relação entre planos e prestadores de serviço”, diz o estudo de Ligia e Scheffer.
À Amil, única financiadora de Dilma Rousseff até agora, foi perguntada a razão de doar a Dilma Rousseff, se doou a outros candidatos e o que uma empresa desse setor que doa a um político espera se ele for eleito. A Amil respondeu que financia com seus recursos e que tem como critério os programas dos candidatos.
“A Amil informa que apoia o financiamento de campanhas eleitorais, com recursos próprios, de acordo com as regras e limites estabelecidos pela legislação eleitoral vigente, contribuindo, assim, para o fortalecimento dos processos da democracia brasileira. A empresa reitera que apoia legendas ou candidatos de acordo com os programas apresentados à sociedade”, diz a nota da Amil ao GLOBO.
Entre os doadores do setor, o Bradesco Saúde aparece em segundo maior financiador de campanha, com destinação de R$ 3,1 milhões para os candidatos. As Unimeds doaram R$ 688 mil.
Fonte: O Globo