Direita médica se incomoda e confessa de que lado está
Heleno R. Corrêa Filho (1)
A direita médica brasileira, representada em um caso particular não pela direita da direção do CFM, mas por um grupo de médicos formados nos anos 1970 que se comunicam pelo “ZapZap”, diz que a repressão contra a organização política popular se justifica pelo roubo praticado por políticos trabalhistas na Petrobrás e pela falta de dinheiro para a saúde e acusa a esquerda de apoiar a corrupção. Assim sendo querem que prendam Lula e fechem o Partido dos Trabalhadores.
Alegam que a “lava-jato” já recuperou três bilhões. Não querem falar de VINTE bilhões sonegados pelas empresas no Comitê Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) da Receita Federal Brasileira, num roubo segundo blogs alternativos, teria sido organizado pela Globo (Rede Sirotsky RBS – Globo Gaúcha) e descoberto na operação Zelotes, que imediatamente a PF passou a investigar perseguindo os filhos do Lula para esquecer os empresários do RS. As empresas teriam deixado de pagar multas fiscais e ambientais mediante propinas. Reclamam que sejam presos e perseguidos TODOS os partidos de esquerda e trabalhistas. Se alguém de fora falar as palavras-chave “Maia, Aloysio e Neves” desconversam mesmo sabendo que o “Aécio é Penta”! Dizem que a esquerda está justificando o roubo praticado pelos seus políticos no Petrolão. Dizem que “o país está falido. É melhor vender tudo logo!”. Defendem o assassinato de reputações e das garantias de direito civil, e generalizam dizendo que todos os políticos (de esquerda bem entendido) são ladrões. Ato contínuo vão à passeata junto com Agripino Maia, Ronaldo Caiado (também do mesmo grupo), e Bolsonaro. Expressam assim candidamente suas opiniões.
O lado desses médicos é o lado neoliberal. Eles são contra Keynes, contra Amartya Sen, contra o socialismo sueco de Dag Hammarskjöld, contra Vandana Shiva, contra Nelson Mandela, e a favor da bolsa de NY. Acredito que ainda assim a direita não vai conseguir entregar o país.
Que inveja a classe média de direita tem de que o ex-presidente Lula seja, por lei, o depositário do acervo presidencial de seu mandato, com garrafas de vinho, adagas de ouro e trono de baobá. Onze contêineres de presentes para tomar conta por um reles ex-metalúrgico por causa de uma lei aprovada no último ano do governo FHC para justificar a criação do Instituto FHC-Milenium sancionada em 2002? Consideram que Lula roubou. Só pode ser roubo…de poder.(2)
No calor das manifestações que ainda acontecerão aponto o enorme preconceito contra pobres e trabalhadores que se organizam, fazem cotizações, compram comida, contratam ônibus e comparecem para depois a classe média motorizada dizer que só se manifestam pagos por partidos que lhes dão sanduíches ‘de mortadela’.
Não adianta dizer a eles que ninguém “de esquerda ou de direita” é a favor da corrupção. A diferença é que a esquerda é a favor da função social da propriedade e contra o roubo político da propriedade pública. Essa pauta hoje não cabe em apenas um dos vários partidos políticos no espectro da esquerda brasileira. Essa pauta defende movimentos e políticas que promovam o combate aos que pretendem fechar partidos políticos populares para abrir caminho a quem vai concentrar poder, riqueza e destruir a organização dos trabalhadores. Se combater a corrupção fosse tudo na política, Hitler estaria no poder.
Essa estratégia anticorrupção não justifica que “em nome da democracia” os EUA tenham devolvido países inteiros para a idade da pedra lascada como Iugoslávia, Líbia, Afeganistão, Iraque, e agora a Síria. No passo atual, os cidadãos brasileiros encantados com a direita “que não tem lado” estão jogando o Brasil no caminho da Síria.
Está na Internet para quem desejar ver que três grupos políticos organizaram e pagaram as manifestações de 13 de março de 2016: _ O VPR ($ da Cia), Revoltados (direita domestica), e MBL (AMBEV e Irmãos Koch). Foi tudo tão espontâneo quanto o metrô gratuito dos tucanos em São Paulo capital para que a classe média branca, escolarizada, liderada e desinformada pela mídia compareça para apoiar aqueles que sabem de qual lado estão.
As manifestações populares são enorme sacrifício para famílias de trabalhadores, índios, rurais, quilombolas, moradores de rua, crianças de colo, povo negro da periferia, padres, pastores e líderes religiosos da pobreza, ainda que acompanhados de estudantes e artistas do povo que consigam caixa de sindicatos e partidos políticos. Os partidos têm papel fundamental quando dinheiro não vem da AMBEV, Chevron, Instituto Milenium e irmãos Koch. Essa diferença pode se tornar mais visível nos próximos dias.
As mentiras de que os políticos de esquerda são TODOS ladrões são utilizadas há séculos e os que apoiam os autoritários fascistas desejam entregar o Pré-sal, o Banco Central, e transformar a Polícia Federal na GESTAPO autônoma brasileira. A Geheime Staatspolizei foi como polícia secreta autônoma a arma dos nazistas para tomarem o poder da social democracia alemã na famosa noite dos Cristais. Foi autônoma em relação ao estado e braço direto do nazismo, juntamente com o aparato judiciário alemão que justificou plenamente o genocídio judeu e das minorias.
Os que insistem em dividir o mundo em dois – os “petistas” e nos “não petistas” – na verdade miram suas armas contra os socialistas, os comunistas, os trabalhistas, e até sociais democratas honestos (eles existem como Bresser Pereira). Incluem no seu ódio babando verde contra os explorados. Sabemos que o alvo são todos que lutam pela democracia verdadeira de ‘um homem, um voto’, e todos os que ousem disputar a política democrática burguesa chamada de ‘política limpa’ que a direita classista sempre fez. A verdadeira esquerda não subiu na vida segurando o pau do microfone do ditador general Figueiredo nem disputou hospitais de interior contra o SUS. A diferença é que o povo e os trabalhadores expressam isso há 40 anos e a maioria dos políticos trabalhistas e de esquerda não apoiou a ditadura para utilizá-la como escada social.
O pensamento atual de esquerda acredita que seja possível retomar o crescimento econômico interno, sem eleições privatizadas por empresas, com cada vez menor roubo do orçamento público, sem entregar o pré-sal, com verbas para educação, e com cadeia para empresários que distribuam propinas. Acredita em Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal públicos e com cargos de carreira funcional estáveis(3). Acredita em Petrobrás pública, saneada e garantindo o suprimento estratégico do país. A esquerda médica e da saúde não é discípula de Thatcher, que ajudou a destruir o Iraque, mas não conseguiu fechar o “SUS” Inglês (NHS). Em país desenvolvido, a direita é mais cautelosa do que foi no Kosovo e na Ucrânia.
É improvável que o povo brasileiro, que foi liderado para ir às ruas com a direita no dia 13 de março de 2016, esteja contra esse programa, ainda que a mídia tenha lado e mantenha esse mesmo povo órfão de cidadania e educação política. Os Datena, Faustão, e Cia. Não conseguirão manter a ignorância enquanto a direita não conseguir censurar a Internet. Semana que vem pagaremos nosso Imposto de Renda para financiar a Katia Abreu. Tan Pobrecita! Que a classe média faça suas escolhas políticas esclarecidamente e honestamente, sem fraudar uma vez mais a injusta taxação de seus salários como se fosse capital rendendo na bolsa. Nada mais triste do que pobre com ideologia de quem o oprime.
É necessário concluir reafirmando que a esquerda médica e da saúde é a favor de reforma fiscal com taxação dos lucros em bolsa e dividendos, com CPMF para rastrear onde bandidos escondem dinheiro, com reforma agrária e garantias de reservas indígenas contra desmatamento e contrabando de minérios estratégicos (coltan, háfnio, tungstênio, nióbio “da mãe do Aécio”) e expansão da saúde e educação públicos, gratuitos e universais.
1 Heleno R. Corrêa Filho – Março2016 – Diretor do Cebes.
2 Lei 8394, 1991 [ http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1991/lei-8394-30-dezembro-1991-373619-norma-pl.html ]
[ http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2002/decreto-4344-26-agosto-2002-451540-norma-pe.html ]
3 Os mesmos cargos em que fui aprovado quatro vezes em concursos públicos e a ditadura me impediu de assumir e trabalhar nos anos 1970.