Em 10 anos, número de jovens gays do sexo masculino com aids cresce 60%
O Estado de S. Paulo – 29/11/2011
O número de jovens homossexuais masculinos com aids aumentou 60% em uma década, informa o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.
Em 2010 foram confirmadas 514 infecções entre gays de 15 a 24 anos, equivalente a 26,9% dos casos nessa faixa etária. Em 2000, haviam sido notificados 321 pacientes com o vírus. Entre jovens heterossexuais, a tendência é inversa: em 2000, eles respondiam por 29,8% dos casos confirmados da doença enquanto em 2010 representam 21,5%.
Os índices levaram a pasta a constatar que o risco de um jovem gay brasileiro ter o HIV é 13 vezes maior que o do restante da população da faixa etária. Ao lado de meninas de 13 e 19 anos e travestis, essa população é a que desperta maior preocupação.
“É preciso colocar em prática estratégias que dialoguem com esses grupos para incentivar a prevenção e reduzir as vulnerabilidades”, disse o ministro Alexandre Padilha. Uma das medidas será posta em prática nesta semana: a campanha para lembrar o dia mundial de luta contra a doença, será dirigida aos jovens homossexuais.
Na contramão. O aumento de casos entre jovens gays destoa do que se verifica entre os números gerais. Em 2010, foram registrados no País 34.212 casos novos – pouco menos que os 35.979 de 2009. As mortes também caíram. Em 2010, foram 11.965, ante 12.097 informados em 2009. “A epidemia está estabilizada”, diz o diretor do Departamento de DST-Aids e Hepatites Virais do ministério, Dirceu Greco.
Para explicar a maior vulnerabilidade de jovens gays masculinos, Padilha cita uma tese há tempos usada: essa população teria crescido num período em que a aids já não é mais vista como sentença de morte. Sem ter vivenciado os problemas do início da epidemia, o grupo teria “relaxado”. Pesquisa de 2010 do ministério já mostrava que jovens gays usavam menos camisinha que a população em geral.
Mas há outros fatores que, na avaliação de integrantes de movimentos sociais, também são preponderantes, como a dificuldade do acesso a ações de prevenção e à testagem do HIV, principalmente por causa da homofobia. “Há centros que não estão abertos para esse público. Daí a necessidade de estratégias específicas”, diz o presidente do Grupo Pela Vidda, Mário Scheffer.
Uma das ações vistas com otimismo pelo ministério é a oferta de testes rápidos para HIV. Um acerto, na avaliação de Scheffer, desde que feita em áreas onde há maior frequência de jovens homossexuais. Para ele, porém, é importante que tal estratégia seja feita por setores de saúde, não por ações de ONGs. “A testagem pressupõe uma assistência: de esclarecimento antes do teste, de encaminhamento, depois do resultado. Isso tem de ser feito por um profissional”, defende.
De acordo com o boletim, a Região Sul concentra a maior taxa de incidência de aids no País, com 28,8 casos por 100 mil habitantes. Em seguida vem a Região Norte e Sudeste, com 20,6 e 17,6. No Centro- Oeste, a taxa foi de 15,7 e no Nordeste, de 12,6.