Em 3 anos, 500% a mais de atendimentos
O Globo – 30/03/2012
A Clínica Fênix, em São Francisco do Itabapoana, teve um aumento de 500% em seus atendimentos pelo SUS desde 2009. O crescimento acentuado chamou a atenção.
– Ou a cidade tinha uma quantidade absurda de doentes ou tinha um sistema de saúde de Primeiro Mundo – disse ontem, ao final da operação, o delegado titular da Polícia Federal em Campos, Paulo Cassiano Júnior, que investigou as fraudes durante seis meses.
Os números não deixavam dúvida de que alguma coisa ia muito bem ou muito mal. Por mês, São Francisco de Itabapoana registrava entre dez mil e 11 mil exames simples, como sangue e urina. A média subiu, e muito, na gestão do prefeito Beto Azevedo (PMDB), ironicamente conhecido como Beto da Saúde. Passou para cerca de 30 mil mensais. Às vezes, 40 mil.
– Era um negócio impressionante. Nós só temos 42 mil habitantes. O que acontecia? A quantidade de exames realizados não havia mudado. A verdade é que eles informavam um número maior ao SUS e ficavam com o dinheiro – disse o vereador Fabinho do Estaleiro (PSDB), que presidiu uma CPI na área da saúde.
O prefeito é suspeito de ser o chefe de uma organização criminosa que, desde 2009, desviou R$3 milhões do SUS. Consultas e exames eram multiplicados para justificar despesas que não se refletiam na qualidade do atendimento à população da cidade. Além dele, foram presos na operação, batizada de Renascer, o ex-secretário de Saúde do município Fabiano Córdova, e o atual, Cristiano Salles; e os donos da Clínica Fênix, Fábio Silva e Juliana Meireles. A PF também cumpriu 11 mandados de busca e apreensão, recolhendo computadores e documentos na Secretaria de Saúde do município e na Clínica Fênix.
Os mandados foram expedidos pelo desembargador Messod Azulay, do Tribunal Regional da 2ª Região. Os acusados foram indiciados por formação de quadrilha, peculato e corrupção ativa e passiva. A prisão é temporária, e eles poderão sair em cinco dias. No lugar de Beto da Saúde assume a prefeitura o vice-prefeito, Frederico Barbosa Lemos (PR). Mas a oposição na Câmara quer impedir que o prefeito venha a reassumir a prefeitura enquanto o processo não for julgado.
Para Messod Azulay, a prisão temporária era necessária. “A imprescindibilidade da prisão temporária dos investigados (…) resta evidente quando se observa que já há um movimento no sentido de ocultação e mesmo destruição de provas”, destacou em sua decisão, alertando para uma possível intimidação de testemunhas pelos acusados.
Um documento encontrado durante as buscas também indicaria que o prefeito Beto da Saúde seria dono de 50% de uma lancha avaliada em R$600 mil que, de acordo com a Capitania dos Portos, está oficialmente no nome dos donos da Clínica Fênix.