Em conversa com o Cebes, Daniel Soranz destaca centralidade da saúde na eleição municipal
Para o deputado federal e secretário de Saúde da cidade do Rio de Janeiro, temas locais têm mais peso do que discussões nacionais na definição das eleições municipais
Ao contrário da eleição para presidência da República e para o governo do Estado, o pleito municipal é marcado pelo pragmatismo e necessidade de fazer serviços públicos “funcionarem”. Esse é o diagnóstico de Daniel Soranz, deputado federal e secretário de Saúde da capital fluminense, que participou do programa Conversas sobre o Rio de Janeiro, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). “A população valoriza muito o dia a dia da cidade e dos serviços públicos ao tomar suas decisões”, afirmou. Dados de uma pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), citados por Soranz, indicam que a saúde continua sendo a principal preocupação dos brasileiros ao escolherem prefeitos e vereadores.
Para Soranz, o ex-prefeito Marcelo Crivella foi nas urnas pelos cortes significativos nas equipes de Saúde da Família, entre outras medidas que prejudicaram o atendimento à população. Segundo o secretário de Saúde, a pandemia de covid-19 elevou ainda mais a importância da Saúde na avaliação de gestores. O desmonte de Crivella aliado ao negacionismo de Bolsonaro diante da pandemia teriam sido fundamentais para o resultado das duas últimas eleições. “A população vai avaliar com muito detalhe como os governantes se comportaram no setor”, disse.
Soranz destacou duas situações que afetam diretamente a gestão da saúde no município: a falta de segurança, de responsabilidade estadual, e o elevado número de equipamentos federais de Saúde na capital fluminense. Ele enfatizou que o “poder paralelo” de criminosos tem imposto barreiras e limitadores que dificultam o acesso do poder público na prestação de serviços à população, sobretudo nos setores de saúde e educação. Sublinhou, ainda, a necessidade urgente de uma resposta do governador Claudio Castro para reverter esse cenário.
Sobre a situação crítica da rede federal de saúde do Rio — o Estado tem 22 unidades federais de saúde, sendo 21 na capital e 1 em Niterói –, o deputado federal destacou como o governo Bolsonaro intencionalmente deteriorou os equipamentos do setor, paralisando obras, reduzindo funcionários, o que resultou em um drástico declínio na capacidade de atendimento para a população em geral. Soranz lembrou a promessa do presidente Lula de construir um novo campus para o Instituto Nacional de Câncer (Inca), como parte do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas ressaltou que ainda não houve avanços significativos nesses esforços.
Outro ponto levantado pelo secretário foi o desequilíbrio financeiro entre a capital e o interior do estado no que se refere ao financiamento da saúde. Ele criticou o fato de o município do Rio atender 31% dos pacientes de outras cidades nas unidades de urgência e emergência, enquanto recebe uma verba per capita muito inferior comparada a municípios como Duque de Caxias e Nova Iguaçu. “Essa situação de desequilíbrio, em relação a capital e interior, tem que ser equalizada com aporte de recursos financeiros”. Um ponto que aumenta a pressão sobre os recursos municipais é a dívida de R$ 1,12 bilhão do governo do estado com a capital. Outra questão, segundo ele, é que o Rio está em 15º no ranking de capitais de aporte de recursos pelo Ministério da Saúde para financiamento de serviços de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar (MAC), “sendo a capital com maior rede de atenção hospitalar municipal”.
Durante a conversa, o secretário destacou a importância dos conselheiros municipais de saúde para acompanhar a execução de políticas públicas da cidade. Soranz finalizou sua participação no debate ressaltando a importância do compromisso de candidatos à prefeituras e câmaras municipais com a construção de um SUS universal e de qualidade. “Há um anseio por renovação. Há uma capacidade de crescer cada vez mais a representação de pessoas ligadas ao SUS”, concluiu.
Assista o debate no link ou a seguir: