Exame de conselho reprova 60% dos médicos recém-formados
ARETHA YARAK | Folha de São Paulo
Desempenho em prova obrigatória em São Paulo foi pior em áreas como clínica e pediatria
Nota ruim não afeta obtenção de registro; índice de reprovados é maior entre alunos de faculdades privadas
Quase 60% dos 2.843 médicos recém-formados em São Paulo que prestaram o exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) foram reprovados.
Segundo o conselho, 1.684 (59,2%) acertaram menos de 60% da prova –o índice mínimo para aprovação.
A taxa de reprovação é maior do que a de 2012, ano em que a prova se tornou obrigatória e quando 54,5% dos médicos foram reprovados. A prova é aplicada desde 2005, mas não era obrigatória e tinha baixa adesão.
Apesar de ser requisito para obter a licença médica, a prova não tem caráter eliminatório. É preciso apenas comprovar a participação no exame para tirar o registro profissional, mesmo que o candidato seja reprovado.
“Infelizmente, o conselho ainda não pode negar o registro para quem não atinge o mínimo de 60% de acerto”, diz Bráulio Luna Filho, diretor do Cremesp e coordenador do exame.
O pior desempenho ocorreu em áreas vitais, como pediatria e clínica médica (só 47,8% e 52% de acertos, respectivamente).
Os futuros médicos erraram questões básicas sobre diagnóstico e tratamento de problemas frequentes em prontos-socorros e postos de saúde, como pneumonia, tuberculose e hipertensão.
“É vergonhoso, um absurdo. A licença deveria ser dada apenas aos médicos que passaram”, diz Luna Filho.
PARTICULARES
Os índices de reprovação são mais graves entre alunos de faculdades privadas: 1.942 dos 2.843 que prestaram a prova. Desses, 1.379 foram reprovados, um índice de 71%.
“No Brasil, é médico quem pode pagar uma mensalidade”, afirma o coordenador.
Neste ano, o exame do Cremesp também foi realizado por 485 médicos formados em outros Estados, que pretendem fazer residência ou exercer a medicina em São Paulo. Desses, 350 foram reprovados –72,2%.
O conselho paulista, o único do país a realizar a avaliação, não revela o nome das escolas médicas com pior e melhor desempenho.
Em anos anteriores, o exame foi duramente criticado pela Abem (Associação Brasileira de Ensino Médico) e pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que defendem uma avaliação seriada do aluno (no 2º, 4º e 6º anos do curso), mas não apresentaram nenhuma proposta.
Países como o Reino Unido e o Canadá adotam uma avaliação externa periódica dos futuros médicos e toma para si a responsabilidade de aferir a competência deles antes que cheguem ao mercado.
João Ladislau Rosa, presidente do Cremesp, diz que, agora, o conselho deve prestar ajuda às universidades, indicando falhas na grade curricular e no sistema de avaliação das faculdades. “Mas ainda há certa resistência de algumas instituições.”