Fumaça: Análise do IPAM aponta para incêndios coordenados

A cortina de fumaça que cobriu parte do território brasileiro nos últimos dias, inclusive a capital, pode ter origem em incêndios coordenados. É o que aponta análise do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia)

A análise foi divulgada nesta tarde, 27/8, e combina informações de satélites de referência para focos de calor com dados de cobertura e uso da terra, referentes a 2023, produzidos pela Rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte. Também foram utilizadas imagens do satélite GOES para visualização da fumaça e anomalia térmica.

O estado de São Paulo registrou, em apenas um dia, 23, mais focos de calor do que a Amazônia inteira. “Não é natural surgirem tantos focos de calor em um curto período, ainda mais em uma região como São Paulo. É como se fosse um Dia do Fogo exclusivo para a realidade do estado, evidenciado pela cortina de fumaça simultânea que surge visualmente a oeste”, comenta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

Dos 2,6 mil focos de calor registrados no estado de São Paulo de 22 a 24 de agosto, 81,29% se concentram em áreas de uso agropecuário como as ocupadas pela cana de açúcar e pela pastagem.

“Os dados mostram que o principal alvo do fogo foram as áreas já desmatadas, ou seja, as que já tinham algum tipo de uso. Portanto, podemos concluir que, se o fogo atingiu uma área de vegetação nativa, isso ocorreu porque ele escapou do local onde teve início”, avalia Wallace Silva, analista de pesquisa do IPAM.

90 minutos

As imagens do satélite geoestacionário, que captura uma nova cena a cada dez minutos, mostram o aparecimento das colunas de fumaça no intervalo de 90 minutos, entre 10h30 e 12h do dia 23. Já o satélite que capta focos de calor passa sobre a região na parte da manhã e no final da tarde. Entre suas duas passagens, naquele mesmo dia, o número de focos foi de 25 para 1.886 no estado.

Redução de danos

O Ministério da Saúde orientou a população das áreas afetadas a evitar  atividades que não sejam estritamente necessárias, usar máscara de proteção e manter a hidratação. O risco é maior para crianças e idosos, além de pessoas com doenças preexistentes.

“Não é hora de brincar, de andar de bicicleta, de pular corda. Para os idosos, a mesma questão: não é o momento de sair pra fazer atividades que não sejam estritamente necessárias. Se precisar sair, use proteção, como máscaras e bandanas, para reduzir o contato com partículas nas vias respiratórias”, afirmou a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, Agnes Soares.

Apuração Oficial é necessária

Para André Lima, diretor-executivo do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), “os indícios apontam que os incêndios foram iniciados de forma articulada, sugerindo uma ação criminosa orquestrada”. Para ele, “a apuração por parte da Polícia Federal e da prisão dos mandantes destes incêndios é urgente”, assim como, complementa, “da averiguação sobre as motivações destes terroristas”. André avalia que a motivação política não pode ser descartada, visto que muitos elementos apontam para uma ação coordenada visando desestabilizar o governo federal.

Cebes, com informações do IPAM e da Agência Brasil