Governo federal disputa com Kassab e Alckmin ações na Cracolândia
Valor Econômico – 28/03/2012
A inauguração de um centro de tratamento para dependentes químicos na região conhecida como Cracolândia, centro de São Paulo, transformou-se ontem em palco de disputa de ações do governo federal com o prefeito da capital, Gilberto Kassab (PSD), e o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).
A entrega do Complexo Prates ontem, construído pela prefeitura para dar atendimento de assistência social e de saúde para até 1,2 mil moradores de rua e viciados em drogas por dia, reuniu petistas, tucanos, integrantes do PSD, vereadores, secretários e religiosos.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), foi à inauguração e destacou os investimentos feitos pelo governo federal no tratamento dos viciados na capital paulista. O ministro disse ter reforçado o repasse de recursos e que só em dezembro de 2011 foram destinados mais R$ 30 milhões para expandir a rede voltada ao cuidado de dependentes.
“Não é possível vencer o crack agindo sozinho”, disse Padilha, ao lado de Kassab e de Alckmin. “Só a parceria entre governos federal, estadual e municipal é capaz de reorganizar a rede de assistência social para cuidar dessas pessoas”, afirmou. O ministro prometeu reforçar a atuação da Pasta na cidade.
Padilha sinalizou que o governo federal quer ter sua marca no complexo. Segundo o ministro, o Centro de Atenção Psicossocial, que terá uma unidade no Complexo Prates, vai receber do ministério R$ 1 milhão por ano para custeio.
O ministro posou para fotos ao lado de Kassab e de Alckmin, simulou jogar pebolim com secretários e defendeu um pênalti batido por Kassab, mas não impediu o gol.
No palco, o prefeito agradeceu a presença do ministro, mas indicou que quem construiu o Complexo Prates foi sua gestão e distribuiu elogios aos seus secretários. O comentário foi reforçado pela vice-prefeita e secretária de Assistência Social, Alda Marco Antonio (PSD).
Fora do microfone, o secretário municipal de Saúde, Januário Montone, disse que o Ministério da Saúde não financiou a construção do complexo e reclamou dos repasses. “Apesar do esforço do ministro Padilha, o governo federal tem “desfinanciado” a saúde”, reclamou. “Hoje os grandes financiadores do SUS são os municípios. O governo federal tem reduzido cada vez mais o nível de investimento”, disse Montone.
Contrariando o ministro, o secretário afirmou que a área de saúde do complexo, com um Centro de Atenção Psicossocial e uma Assistência Médica Ambulatorial, não receberá recursos federais para custeio anual de R$ 8 milhões. Montone reclamou ainda que em 2011 o ministério deu à prefeitura só um quinto dos recursos necessários.
Assim como Padilha, Alckmin procurou destacar suas ações na Cracolândia e rebateu críticas feitas à atuação da Polícia Militar, inicialmente desarticuladas de políticas de saúde e de assistência social.
O Complexo Prates foi entregue quase três meses depois de a PM deflagrar operação na Cracolândia. Os governos municipal e estadual planejavam agir na área somente depois da inauguração do complexo, previsto para fevereiro, mas a ação foi precipitada pelo segundo escalão da polícia. As duas gestões queriam atuar antes que o ministério anunciasse um pacote para a Cracolândia, em ano eleitoral.